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sábado, 24 de setembro de 2016

Ducati Multistrada 1200 S – A moto de Hércules

Quem se lembra no princípio deste século (2003), de um patinho feio chamado Ducati Multistrada 1000, com um motor refrigerado a ar e uns magros 84 cv?
Eram tempos de glória das desportivas, com as brilhantes 916, 996, 998 e mais tarde mais um patinho feio, a 999, que dominavam com mão de ferro o mundial de superbikes. Eram a base de vendas da Ducati, e por isso a Multistrada não tinha demasiada importância para a marca.
Com o tempo as pessoas tornaram-se mais racionais e os gostos foram mudando. As desportivas passaram para segundo plano nas vendas globais e o segmento trail disparou. Por isso a Ducati decidiu lançar em 2010 uma nova versão trail, mantendo a designação Multistrada.
Mas desta vez não se ficaram por um mero exercício de estilo. Quiseram romper o mercado com um novo conceito, cheio de detalhes, um novo motor, e muita, muita tecnologia.
Assim o planearam e assim o conseguiram. Sendo uma moto inovadora, quase rompedora, a aceitação foi imediata, ou seja, um sucesso.
Em 2015, renovaram a moto, ainda mais detalhada e atraente, e é neste ponto que eu tive a oportunidade de testar esta belíssima máquina, na ocasião em que fiz uma passeio organizado pela Ducati Norte.
A Multistrada é uma moto globalmente atraente. O seu “bico de pato”, com duas entradas de ar é imponente e faz um bom conjunto com os faróis e a cúpula. Os piscas integrados nos reflectores de ar dos punhos é outro detalhe que lhe fica bem. As malas que se integram sem qualquer armação adicional (foram pioneiros neste segmento) e o basculante mono braço, são pormenores que tornam esta moto especial.
Por fim temos o motor e o quadro em treliça. Os dois gigantes cilindros em V longitudinal com comando desmodrómico e agora também DVT (sincronização variável das válvulas), são imagem da marca, tal como o seu diminuto quadro em tubos de aço.
Não vou enumerar todos os detalhes tecnológicos, mas a MTS é uma autêntica montra do melhor que se faz em motos. As suspensões Sachs semi-activas, reguláveis electronicamente que se adaptam a todo o tipo de piso, os sistemas de segurança e auxilio na condução, como é o sofisticado controlo de tracção, o ABS com assistente de controlo em curva, o controlo automático da velocidade, assistente de arranque nas subidas, etc., etc.
Esta moto já a tinha mais que vista. Em 2010, na altura em que saiu no mercado, foi uma das minhas hipóteses de compra. Era a minha hipótese mais apaixonada. Como acabava de sair e era um produto completamente novo, não quis arriscar. Agora em 2015, volta a ser hipótese de compra.
Conforme já tinha dito, já estava mais que vista e estudada e por isso só faltava experimentar. O Paulo Mesquita, o simpático técnico de vendas da Ducati Norte, permitiu que no passeio aos Picos da Europa, conduzisse essa bela máquina durante umas dezenas de quilómetros.
O assento, algo acanhado
Sentado na moto, ressalta o quadro de bordo, um autêntico mini-computador a “tutti colore”. No mundo dos tablets e dos smartphones não é nada de especial, mas no das motos é quase exclusivo e inovador. Para encontrar algo parecido em outras marcas de produção em série, teremos que ir à MV Agusta e à BMW. Comandado nuns botões do punho esquerdo, é um regalo para a vista e melhor que isso é extremamente funcional e intuitivo.
A moto é extremamente compacta. Isso nota-se visto de fora e ainda mais estando sentado. O assento não dá grande espaço longitudinal para variar a posição de condução como eu gosto, mas a posição que nos oferece é agradável e confortável, suficiente para fazer muitos quilómetros.
O bico de pato e os faróis, totalmente em led
Depois do Paulo me explicar em 1 minuto como se podiam alterar os modos de potência/suspensões do motor (não entendi quase nada), arranquei no modo Touring. Há que realçar que excepto para abrir e fechar malas, todo o resto é do tipo “mãos livres”, sem chave,  inclusivé para abrir a tampa do depósito de combustível.
Motor em acção, arrancar e….buf! Que moto! Acelera como um diabo e nas curvas a sensação de segurança é extrema, com aqueles pneus de 190 mm atrás, dão a sensação que temos não duas, mas quatro rodas coladas ao chão.
Um pouco de ficção: Hércules orgulhoso, com a sua Multistrada!
Aqui o limite não é a moto, és tu! És tu quem deves saber quais são os teu limites, os limites da estrada e de tudo que  intervém na tua condução, pois de resto a moto não te põe quaisquer objecções. A MTS consegue de uma forma brilhante unir conforto e potência aos molhos!
Entrando um pouco dentro da ficção, se os deuses mitológicos andassem de moto, de certeza que elegeriam uma Ducati e, aprofundando um pouco mais este devaneio diria que Hércules quereria a Multistrada!
Depois de várias excitantes dezenas de quilómetros numa estrada sinuosa algures nos Picos da Europa, quis experimentar outros modos de condução. Pese à tão abreviada explicação, o menu é tão intuitivo que consegui alterar por mim mesmo. Sabendo que tinha que fechar o acelerador para se efectivar a alteração, experimentei pressionar o botão durante 3 segundos e “voilá”, de repente fiquei no modo Sport, com as suspensões mais duras, o motor mais nervoso, controlo de tracção menos intrusivo, etc, etc. e a verdade é que se notam efectivamente diferenças para o modo Touring.
Atractivo pormenor, o escape e o mono braço
Também experimentei o modo Urban, onde tudo é mais suave , motor e suspensões. Fantástico!
E quanto a travagem, que posso dizer em relação a uns Brembo de primeira escolha? Que travam na perfeição! Sem serem bruscos, tens a possibilidade de poderes enterrar-te no alcatrão, ou fazer uma égua, isto figurativamente falando, claro.
Em relação à caixa de velocidades, é muito suave e precisa… até que notei, mais que uma vez, uma falha na passagem da quarta para a quinta, ficando em ponto morto. Na versão anterior também já tinha notado isso. Os que têm Ducatis, já me explicaram que aquilo não é defeito, é feitio! Há que pressionar com decisão a alavanca e a partir daí deixa de falhar.
A regulação do vidro, que pode ser feito com apenas uma mão
Também apreciei a protecção da cúpula. Regulável em altura manualmente, permite inclusivamente fazê-lo em andamento com uma das mãos. Para a minha estatura, 1,74m, resulta perfeito. Na posição mais baixa, o vento vai para o peito, sem fazer ruídos parasitas no capacete. Na posição mais alta, ou até um bocadinho mais abaixo, o vento passa completamente por cima do capacete. A única parte que se mantém sempre desprotegidos, são os ombros.
O menu para alteração dos modos de condução
No grupo havia varias MTS, alguns deles levava pendura e reparei que a altura ao solo não é o forte desta moto. Aliás eu diria que é um ponto fraco, uma vez que presume ter também aptidões todo-terreno, com umas suspensões com 150 mm de percurso.
Desci da moto e não me apetecia devolvê-la. Estava simplesmente inebriado. Este é provavelmente o estado em que muitos ficam depois da experimentar, perdendo as defesas e não olhando nem a meios nem possibilidades para a comprar.
O menu para alteração do tarado das suspensões
Mas eu não sou assim. Depois daquela intensa experiência, passei ao estado de reflexão.
Ok, a moto é do melhor, que não deixa ninguém indiferente. Mas ao entrar nos números fiquei com os ânimos esfriados, e porquê? Porque custa 21.000€ (!) e se quero as malas laterais, ainda tenho que pagar mais cerca de 1.000€!
É aí que dá que pensar, pelo menos àqueles que não lhes sobra o dinheiro (e reflexionam). É necessária tanta potência numa moto? De toda a tecnologia que tem, vou tirar proveito útil dela?
É bem verdade que as motos são objectos de paixão e por isso não devemos pensar demasiado… ou não?

Passeio aos Picos de Europa – diário de bordo

Já lá tinha ido duas vezes, mas sempre em modo “flash ride”, ou seja, sem detalhes nem demoras, ou se ainda não entendeste o que disse até agora, tipo visita de médico.
Numa das paragens pelo caminho...
A Ducati Norte tinha difundido um convite para fazer um passeio aos Picos da Europa, durante 3 dias e duas noites, com visita guiada. O núcleo duro dos motard flavienses depois do necessário consenso, deliberou participar, e assim nos inscrevemos.
No dia 16 pela fresquinha concentramos-nos junto ao casino de Chaves à espera do pessoal que vinha do Porto e todos reunidos, arrancamos, 17 motos e mais de 21 almas.
Seguimos por autoestrada até Verin, viramos para a direita na A52 que passa por A Gudiña, Puebla de Sanabria, e em Benavente apanhamos a A66 em direcção a León. Um pouco antes, saímos na saída 160 em direcção à N625, que percorremos até ao nosso destino em Cangas de Onís.
Quando nos aproximamos dos Picos da Europa, damos-nos conta que aquilo é algo especial. Existem muitas montanhas, até podem ser mais altas, mas os Picos, parecem ser feitos para nos deleitar os sentidos.
De caminho até aos lagos de Covadonga
Foi em Riaño que almoçamos e é a partir de aí que começamos a dar-nos conta da grandiosidade daquele monumento da natureza. Ao adentrar-nos no meio daquelas gargantas e serpenteando por entre os maciços e gigantescos montes rochosos, salpicados de árvores centenárias, damo-nos conta da nossa insignificante e débil existência.
Passado este breve momento melancólico, reparo também que o tempo não está para cantigas. O céu encheu-se de nuvens e começou a chuviscar, este facto, ligado ao conhecimento prévio de uma previsão meteorológica pouco favorável, diz-nos que não vamos passar sede.
Seguimos caminho e …, bom, eu gostava de contar aqui tudo, mas a verdade é que foram muitos os sítios de realce e difícil de dizer exactamente onde, pelo que o melhor é passares também naquela estrada e esbugalhar os olhos.
Chegados a Cangas de Onís, continuamos viagem conforme previsto, rumamos até ao santuário de Covadonga, onde tem uma pequena caverna com uma capelinha e uma cascata, tudo digno de se ver. Nessa altura caia um chuvisco pesado que aconselhou encurtar o programa e fomos até ao hotel que tínhamos reservado em Cangas.
No dia seguinte, toca a madrugar. O tempo tinha melhor pinta e isso animou-nos.
Repescado do programa do dia anterior por causa da chuva, dirigimos-nos aos lagos de Covadonga. Começo por disse que o belo daquilo tudo não são os lagos, é tudo que está à sua volta, desde que começamos a subir o maciço montanhoso. A estrada, estreita e serpenteada, começa a subir lentamente, e a partir de determinada altura parece que tudo o que vemos foi cuidadosamente montado para nos deleitarmos.
As motos estacionadas junto ao lago. A fundo, picos com neve
Junto à estrada ( e algumas no meio dela) apareciam as vacas todas relaxadas, com os seus ternurentos vitelinhos. Ohhhh! Os vitelinhos, coisa mais linda e mais fofa! Só me apetecia saltar da moto e dar-lhe beijos naqueles focinhos amorosos! Cheguei a jurar que nunca mais iria comer carne de vitela, mas não sei se vou conseguir cumprir…
Visto da estrada, víam-se prados com cercas para recolher os animais e ovelhas estrategicamente dispostas nos montes a pastar, tudo só para nós vermos e tirar fotos (pensei eu).
Chegados ao lago mais afastado, e posso dizer que não todos conseguem ter o privilégio de lá chegar em veículo próprio, devido às grandes limitações por falta de lugares de parqueamento, uma vez mais fomos brindados com uma envolvente ímpar. De um lado víamos uns picos donde se podia ver neve ou seja, onde existe neve todo o ano e do outro as minas da Buferrera, donde em tempos extraíram ferro e magnésio, agora todas bem arranjadinhas para turista visitar e sacar muitas fotos.
Voltamos a descer, e seguindo a AS-114, em Las Arenas viramos no cruzamento à direita e fomos até onde começa a funicular de Bulnes. A funicular, é um eléctrico que se desloca por um túnel que nos leva até à aldeia com esse nome. Não tivemos tempo disponível para o fazer, mas estivemos mesmo ao lado, no miradouro/mirador de Camarmeña, cujo acesso é uma subida a pique, mas que nos compensa com umas vistas, que são um verdadeiro espectáculo da natureza! Ver para crer!
O teleférico de Fuente Dé
Daí voltamos para trás, viramos à direita pela AS-114, depois pela N-621 e almoçamos em Potes. Pela tarde fomos até mais um lugar icónico, Fuente Dé, donde está o temível teleférico (para alguns), dando-nos a possibilidade de desfrutar de mais uma paisagem única e vertiginosa.
Voltamos novamente à N-621 e seguimos até Portilla de la Reina, e a partir daí subimos uma estrada muito serpenteada mas com bom piso, a LE-2703. Paramos em dois miradouros, um no meio do caminho e outro antes de começarmos a descer, o Puerto de Pandetrave.
Picos visto de onde ficamos alojados em Codiñanes
Finalmente deslocamos-nos até àquele que seria o nosso alojamento, pequenino (enchemos aquilo), mas num local idílico – Codiñanes de Valdeón, do ponto de vista turístico (no inverno deve ser brrrrrrrr, de gelar!). Aquilo é pequeníssimo e como deves imaginar, pouco tinha que ver para além das impressionantes montanhas que nos rodeavam.
O melhor foi no dia seguinte. Fomos nas motos até Caín de Valdeón, a uns 6 Km de onde estávamos alojados. Foi aí que fizemos um dos percursos mais bonitos que já fiz na minha vida!
Ruta del Cares- a ribeira ao funnnndo!
O seu nome é “Ruta del Cares” e só se pode fazer a pé. Atravessamos túneis escavados na rocha onde a água caía como chuva, que quase justificava levar um guarda-chuva. Durante a maior parte do caminho que fizemos, tivemos sempre a acompanhar um ribeiro que cada vez se afastava mais de nós em profundidade, chegando a estar a mais de 200 m. Impressionante! Do nosso lado esquerdo ia uma levada de água, escavada na rocha, que acompanha este percurso até ao miradouro da Carmameña. Mas por falta de tempo tivemos que voltar para trás, pois ir e voltar seriam 24 Km e isso ocuparia um dia inteiro. Esta interrupção não agradou a ninguém, mas com isso reforçou a vontade de regressar para acabar aquele percurso e muito mais.
Uma anotação: se tirar fotografar poluísse tanto como o motor de um carro, neste momento não se podia respirar nos Picos da Europa! Entre todos tiramos quase uma tonelada de fotos. Não acreditas? Então vai ao facebook e verás como é verdade!
Regressamos ao alojamento, os mais limpinhos tomaram banho (eu não tomei, que sou rústico), fizemos os sacos e as maletas e rumamos de regresso a casa antes que se fizesse tarde. Ainda tivemos que fazer uma manobra logística altamente sofisticada (hehe) para abastecer de gasolina as motos mais bebedoras, de forma a chegar à próxima bomba de gasolina. Bom, para não ficares curioso, vou dizer como foi a manobra: um taxista foi buscar um “jerrican” de gasolina e depois andamos a por um par de litros nas tais motos que não vou dizer quais são.
Estrada de Caín a Cordiñanes
Mais uma vez comemos em Riaño e a todo o vapor metemos o azimute para casa. De repente parece que ia tudo louco, ou então tinha o velocímetro avariado. Penso que seria a 2ª hipótese, pois nunca chegamos a ser interceptados pela polícia.
O grupo estava cada vez mais homogéneo. Quando já começávamos a conhecermos-nos todos, tínhamos agora que separar-nos. Uma pena, mas em tudo há um princípio e um fim. Todos ficamos entusiasmados para uma próxima, pois a organização foi impecável e todos deram a sua contribuição para a boa disposição e o bom ambiente.
Eu pessoalmente deixo aqui este diário de bordo, que pode resultar um pouco enfadonho com o vira à esquerda e vira à direita, mas fiz isso propositadamente para que, quem o queira repetir ou fazer pela primeira vez, consiga “à primeira tacada” ver os locais mais notáveis dos Picos da Europa. Abaixo podem-se ver os mapas com os percursos.
A todos eles desejo que desfrutem tanto como eu desfrutei.

Recomendo que o passeio seja feito em moto. Boa viagem e boas curvas!
Percurso Chaves - Riaño

Percurso de Riaño - Cangas de Onis e todas as voltas dadas nos Picos da Europa

Percurso total

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Yamaha Tracer 700 – Bonita e funcional

Há uma série de anos, saiu a série MT, com a espectacular MT-01 e a mais humilde MT-03. Ambas tiveram em comum o pouco sucesso comercial, e por isso acabaram com a sua produção. Nos últimos anos lançaram a MT-09 e a MT-07 e essas sim foram um sucesso total, devido ao acertado das suas linhas e a boa relação qualidade-preço do produto.
Há um par de anos lançaram outro exito de vendas – a MT09 Tracer e por fim, este ano saiu ao mercado a Tracer 700.
Com todos estes sucessos, este ano reordenaram a gama e repartiram-na por vários sectores: a linha MT nas hyper nakeds, a linha XSR nas sport heritage e as Tracer nas desportivas e turismo.
Desloquei-me ao concessionário da Yamaha em Barcelos – Motociclos Jorge Moreira, sem qualquer intenção e deparo-me com a Tracer 700 acabadinha de chegar, pronta a ser estreada.
Tentador. Não é propriamente a moto dos meus sonhos, mas é sempre interessante ver como andam as modas. Depois de muita insistência e simpatia por parte da proprietária, não pude evitar aceitar a oportunidade.
A Tracer 700 é uma moto feita para gostar dela à primeira vista. As linhas são harmoniosas e sedutoras e incitam à aventura. Mas não é só o seu estilo aventureiro que a tornam atractiva. Vista ao pormenor, tem componentes de excelente qualidade para o seu segmento e preço. Destaco o basculante em alumínio fundido, o sistema de escape, os pousa-pés e a pega do passageiro, os piscas dianteiros integrados no volante, a cúpula regulável em altura..
Posto ao volante, fui com passageiro, a minha filha. Senti a moto um pouco curta, mas foi uma sensação temporária, pois vinha da Transalp. A embraiagem e a caixa de velocidades funcionaram sem reparos e o motor, com uns substanciais 74,8 cv, desenvolve-se com alegria provocando interiormente uma reflexão instantânea que nos faz perguntar “para que quero mais?”.
Notei as suspensões algo duras, mas teria que andar mais uns Km para tirar mais elacções. Penso que não são reguláveis, ademais da traseira em compressão.
A cúpula, regulável em altura
Os travões, com ABS, cumprem o seu cometido, sem brilharem, mas tem como nota positiva, a manete do travão ser regulável.
Conforme disse anteriormente, a cúpula é regulável à mão em toda a sua extensão, com dois parafusos, mas a verdade é que na sua posição mais alta, parece que está na mais baixa, ou seja, protege pouco.
O conta-rotações, bem projectado, simples e visível
As asas do passageiro são muito bonitas e estão muito bem integradas na moto, mas a passageira realçou que são pouco práticas para se agarrar.
Os retrovisores são bonitos e de fácil regulação.
O quadro de bordo é todo digital. Está na moda, mas eu sou partidário que um mostrador deve ser visível numa breve vista de olhos, e o digital está a ir contra este meu princípio. Quando vamos a conduzir, quanto mais tempo tenhamos os olhos na estrada, mais seguros vamos.
Pormenor do escape e do basculante de alumínio
Neste caso, o mostrador da Tracer está muito bem projectado: o conta-rotações abaixo, com longas barras que lhe conferem boa visibilidade (um defeito muito comum noutros conta-rotações), o velocímetro à direita, o indicador de velocidade engrenada ao centro e o nível de combustível acima à esquerda.
Pneus 180 mm Michelin  Pilot Road 4
Já que o espírito é de aventura, atrás poderia ter uma pequena grelha para levar pequenos embrulhos.
As rodas são para declaradamente para estrada, com 17’’. O pneu de trás tem 180 mm de espessura. Dá mais estilo, mas para a potência que tem, 160 mm seria mais que suficiente. Destacam-se os pneus, uns excelentes e duráveis Michelin Pilot Road 4.
Por fim, vamos ao preço. Ronda os 8.500€, já com todas as despesas de matriculação, transporte, etc..
Olhando para a concorrente mais directa, a Honda NC750X, custa esta 7800€ e tem soluções muito interessantes, mas a verdade é que a Tracer, além da elasticidade e potência do motor, tem componentes de muito melhor qualidade, que na minha óptica valem bem a diferença.
A minha cor preferida- Radical Red
Não é cara, mas também não é propriamente barata. Por mais 2000€ temos a Tracer 900, que está noutro nível e por menos 1500€ podemos comprar a MT-07 ABS que com a adaptação de uma cúpula quase pode fazer o mesmo. Enfim, dá que pensar. Tudo depende do gosto e do orçamento de de cada um e da utilização que lhe queremos dar.







domingo, 4 de setembro de 2016

Honda CRF1000L África Twin – A roda que faltava

      
A Honda nos últimos anos decidiu concentrar todos os seus esforços nos modelos de gama baixa, acessíveis e económicos: a gama CB 500 e a NC e actualizou as VFR. Uma estratégia muito acertada em tempos de crise, mas com isso, todo o resto, gama trail e turística ficou completamente desactualizada, com o consequente desinteresse de potenciais clientes que optaram por outras marcas com ofertas muito mais actuais e interessantes.
Debruçando-nos no segmento do modelo que me leva a escrever este texto – o trail (roda 19’’ e 21’’), há que referir que a Honda está completamente desprovida. Com roda dianteira de 19’’, tem apenas a peso pesada VFR1200X CrossTourer, à qual é quase pecado chamar-lhe trail. A África Twin já foi descontinuada há mais de 10 anos , a Varadero, há uns 6 e a Transalp há mais de 3.
Neste contexto a competência tem repartida toda a cota de mercado de trails, em especial as marcas europeias BMW, KTM e Triumph, as quais têm todo o tipo de modelos com roda 19’’ e 21’’.
Assim, a Honda com a sua África Twin está a tentar recuperar algum terreno perdido, mas atacou na vertente mais radical, ou melhor, mais campestre, impondo umas dimensões completamente enduristas: roda 21” à frente e 18’’ atrás, ambas com câmaras de ar, permitindo-lhe a possibilidade de meter-lhe pneus de tacos 100% de enduro.
Posto em contacto com a moto, a verdade é que, para além do tamanho das rodas e das suspensões, todo o resto dá mais aspecto de uma moto bonacheirona, feita para todo o público, preparada para viajar comodamente com ou sem passageiro.
Considero a moto bonita, com combinações de cores muito harmoniosas, os seus componentes transmitem qualidade e têm qualidade, mas quando vejo aquela roda enorme e fininha (apenas 90 mm de espessura!) pergunto-me, para que quero uma coisa daquelas numa moto que irá andar em terra um par de vezes, e onde, ainda por cima foi privilegiado o conforto.
Posto ao volante, a posição de condução é natural e agradável, pelo menos para a minha estatura. O assento é plano e muito confortável e toda a moto transmite uma sensação de ligeireza muito grande, tanto parado, como em andamento. Uma sensação que coincide com o peso declarado, pois a versão ensaiada, sem ABS, cifra-se em 212Kg.
Os piscas em destaque
Conforme já é apanágio da Honda, as suspensões, da marca Showa, são de excelente qualidade, multi reguláveis. Em consonância com as rodas, são de longo curso: 230mm à frente e 220 mm atrás, reforçando por um lado as suas aptitudes de todo-terreno e por outro conferindo conforto em viagem. Esta característica também se nota quando travamos com alguma firmeza, afundando-se a frente da moto, mas sem perder a consistência e controlo.
O defeito de testar em muito pouco tempo uma nova moto, é que não nos adaptamos às suas particularidades. A Honda nos últimos anos tem alterado nos seus modelos os comandos dos piscas, tendo trocado a posição com a buzina. Resultado, quando por instinto queremos fazer pisca, damos uma buzinadela. Assim, fartei-me de buzinar nas rotundas, nos cruzamentos, etc. Havia necessidade de nesta altura em que está tudo uniformizado em todas as marcas, andar a baralhar coisas destas? Coisas de japoneses…
Onde a Honda tem por costume poupar muito é nos quadros, e parece que neste modelo não foi excepção. Sim, a África Twin, uma moto que custa mais de 13.000€, está dotada de um quadro de aço! Podem existir muitos e diversos argumentos, mas até nas motos de cross puseram um quadro de alumínio. Olhando para a concorrência, a Yamaha 900 Tracer por exemplo, que custa 10.000€, tem um quadro de alumínio!
A buzina, também em destaque
Também tenho que fazer uma breve referência ao quadro de bordo. No computo geral gosto dele, com o seu fundo azul escuro e dígitos brancos. É todo digital, está muito completo, com todo o tipo de informação. Acresce que tem a facilidade de dois botões na pinha esquerda, permitindo com um mudar de menu e com outro seleccionar o item desejado. Neste quadro não gostei do facto de ser todo digital, pois à distância que está, pelo menos para mim, não vejo claramente os dígitos (de dia, com sol). Ainda menos me convence o conta-rotações digital, de difícil leitura. As únicas coisas que se vêem claramente é a velocidade instantânea e a velocidade engrenada.
Por outro lado, o quadro de bordo, como está elevado em relação à posição de condução, puseram-no numa posição quase vertical, um pouco inusual, que a mim não me cai bem e se a condução se faz de pé (muito usual em todo-terreno), pior ainda. Ademais o cabo de embraiagem interfere um pouco com a sua parte de baixo (ver na foto).
Outro aspecto menos bem conseguido são os piscas da frente. Como a carenagem é bastante elevada, aí estão eles a ocupar um lugar de honra no campo de visão, tal qual as orelhas de um burro (caídas). Disseram-me que nas versões com ABS, os piscas já são em led, um bocadinho mais finos, e por isso mais discretos…
As duas primas...
Resumindo, no breve contacto que tive com a moto, parece-me ser um produto bem conseguido, de qualidade e equilibrado dinamicamente. O motor é tradicionalmente Honda, cheio de potência e binário desde baixas rotações e agradável de utilizar. O preço, 13.000€ (sem despesas), pode parecer à partida barato, mas se lhe juntarmos itens quase indispensáveis como são os punhos aquecidos, descanso central, malas, ultrapassa com facilidade os 15.000€, deixando assim de ser tão acessível. Nesta versão média, ademais do ABS, também inclui o controlo de tracção com 3 posições. Aqui também denota uma contradição – uma moto completamente direccionada para o campo com controlo de tracção? É verdade que em matéria de segurança nunca é demasiado, e como este controlo é meramente electrónico e desconectável, aceitamos o dispositivo como sendo uma prenda da Honda…
A Honda CRF1000L África Twin é uma moto que cativa ao primeiro olhar e não decepciona ao vê-la em pormenor e ao andar nela. No entanto, aqueles que são mais exigentes, notam pormenores que, não afectando a qualidade ou a dinâmica em geral, leva-nos porém a vacilar e voltar a olhar para a concorrência, onde são mais detalhistas e coerentes naquilo que disponibilizam.
Foi exactamente neste, o estado em que fiquei: a vacilar.

O problema é que quando vacilamos, acabamos por comprar outras marcas (já antes me aconteceu o mesmo), muitos mais atentos e coerentes, onde esses “maus” detalhes estão reduzidos ao mínimo e em constante melhoria.

A moto foi gentilmente cedida pela Motoboxe para "drivetest".