Comentário das imagens expostas


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Passeio no interior norte - descobrir o IC5


A azul - o trajecto efectuado

Já andava algo faminto, quase desesperado em fazer uma cavalgada na minha RaTa.
Tinha ouvido falar da inauguração do último troço do IC5, mas mesmo na net a informação é escassa. Por isso, de um momento para o outro agarrei no meu GPS e lancei-me à estrada.
Fui em direcção à vila onde diziam que tinha o seu início e chegado a Murça, nem sequer uma placa a indicar onde ou para onde era (por sinal o Presidente da Câmara achou tão importante a obra que nada fez). Lá tive que utilizar a técnica mais eficiente para colher informações fidedignas e dirigi-me a um posto de gasolina. Aí fui confrontado com a primeira mentira: afinal o IC5 não começa em Murça, quem quiser desfrutar desta grande infra-estrutura, tem que andar mais 11 Km. Lá tive que fazer as apertadas e fastidiosas curvas da famosa “Rampa Porca de Murça” (há quem goste, eu não) e no cruzamento com o IP4 (em obras) lá começou o famigerado IC5.

Início do IC5
A obra sem dúvida é de respeito. A configuração é a tradicional para um IP (uma via para cada lado e duas vias nas subidas), mas tem imensas rectas longas, as curvas são amplas e tem muitas pontes a ultrapassar rios e vales. A velocidade autorizada é de 90 Km/h mas dá para circular perfeitamente a velocidades (com segurança) que dão direito a ficar sem carta durante muito tempo.
Depois de atravessarmos o concelho de Alijó, rapidamente passamos Carrazeda de Ansiães. Note-se que em mais de metade do percurso do IC5, até Mogadouro, concretiza uma ligação outrora inexistente.
Íamos então ao largo de Carrazeda. Nem se chega a ver. De imediato o sentido inflecte de Este para Nordeste, passando Vila Flor quando, passados um par de quilómetros, desaguamos numa rotunda sem qualquer indicação de continuidade do IC5. Antes disso, tinha visto que para a direita podia rumar para a Guarda via IP2 e contornando a rotunda poderia virar para o IP2 em direcção Norte, para Macedo de Cavaleiros, etc..
Antes do cruzamento para Vila Flor
A minha reacção foi não reagir; continuei pela nacional até que me fartei e vi que para ali não era de certeza o famigerado itinerário. Mais uma vez dirigi-me ao um posto de informação, quero dizer, de combustível, e aí informaram-me que a direcção era do IP2, mas 2 Km depois teria uma indicação para seguir o IC5. Talvez para me sentir menos estúpido, também me confirmou que não faltavam por aqueles lados, condutores enganados, devido à sinalização insuficiente. É assim que andamos (mal) governados.
Pois bem, lá voltei para trás e depois de entrar no IP2, apareceu a dita indicação para virar à esquerda a 1500m em direcção a Mogadouro, etc..
Muitas pontes e muitas retas
A partir daqui o trajecto passou a ser mais isolado de povoações e terrenos agrícolas, com muitas subidas e descidas, rodeadas de mato de giesta, urze, e alguns pinheiros e carvalhos que se devem ter salvado da devastação de fogos de outros anos.
No entanto era inevitável apreciar o verdejante da paisagem. Depois da perspectiva de uma grave seca, fomos abençoados com uma abundante chuva, resultando numa Primavera glamorosa. Agora há que saber apreciar.
Alfandega da Fé também passa despercebido, mas em contrapartida deparamo-nos com um dos mais belos postais do trajecto – Mogadouro, enquadrado por verdejantes campos de cereais.
Paisagem para o rio
A partir daqui até ao fim do percurso em Duas Igrejas, (a 8 Km de Miranda do Douro) seguiram-se retas de perder de vista, sempre acompanhado pela N102, convidando-me a enrolar o punho, mas não caí na tentação, pois o objectivo era muito mais enriquecedor – tão somente apreciar a paisagem.
Uma coisa que reparei em todo o trajecto, é que o mesmo estava literalmente “às moscas”. Um carro ou um camião de vez em quando…. mas que é que se passa?, perguntei eu a mim próprio. Os combustíveis estão caros, mas não existem portagens, pelo menos por agora. Depois na estrada nacional em direcção a Vimioso constatei a mesma coisa, chegando à inevitável conclusão de que todo o norte interior está deserto. Digamos que ter feito o IC5 naquele local, é como fazer um restaurante num cemitério e esperar que os residentes lá vão. Tarde demais.
Mogadouro
Também vi por três vezes cartazes de agradecimentos ao nosso mais recente ex- primeiro-ministro: “ Obrigado Sócrates, o povo de/o PS de / o concelho de (…) está agradecido”. Bom, sobre isso eu só tenho a acrescentar que não só eles, devem estar muito agradecidas, mas também as empresas construtoras, os seus dirigentes, nos quais estão incluídos políticos e respectivas famílias, a banca e todo o país em geral, por toda a dívida acumulada e que agora temos que pagar com elevados juros e sacrifícios.
Passado Vimioso, armei-me em inteligente e segui as placas para Bragança, ignorando o (bom?) conselho do GPS que me dizia insistentemente para ir para Norte pela N218-2, por Pinelo.
Ainda não sei se fiz bem ou mal, só sei que a estrada era larga mas algo irregular, desembocando no IP4 sem contar, já muito perto da fronteira de Quintanilha.
Ao aproximar-me de Bragança, levei com mais uma rasteira. Entrei sem contar na nova auto-estrada e ainda tremi quando vi a anunciar “troço com portagem”, mas felizmente saí imediatamente antes, pela entrada Sul da cidade (o IP4 contorna pelo Norte e a AE pelo sul).
Depois de uma demorada paragem, lá fui eu para a minha estrada preferida em direcção a Chaves– a N103. Já tinha tantas saudades, que nem me rendeu nada. Apenas o sol, a aflorar no cimo das montanhas, me fazia lembrar que o dia estava a chegar ao fim.


Estatística:
·  Distância do percurso – 381 Km;
·  Distância do IC5 (aprox) – 140 Km
·  Velocidade média – 82 km/h;
·  Consumo – 4,9 l/100 Km;
·  Ascensão acumulada – 5871 m;
·  Ponto mais alto alcançado (Sta. Leocádia, Carrazedo Montenegro)– 922 m;
·  Ponto mais baixo alcançado (perto Vila Flor – IP2)– 195 m.