Já lá tinha ido duas vezes, mas sempre em modo “flash
ride”, ou seja, sem detalhes nem demoras, ou se ainda não entendeste o que
disse até agora, tipo visita de médico.
Numa das paragens pelo caminho... |
A Ducati Norte tinha difundido um convite para fazer
um passeio aos Picos da Europa, durante 3 dias e duas noites, com visita guiada.
O núcleo duro dos motard flavienses depois do necessário consenso, deliberou participar,
e assim nos inscrevemos.
No dia 16 pela fresquinha concentramos-nos junto ao
casino de Chaves à espera do pessoal que vinha do Porto e todos reunidos,
arrancamos, 17 motos e mais de 21 almas.
Seguimos por autoestrada até Verin, viramos para a
direita na A52 que passa por A Gudiña, Puebla de Sanabria, e em Benavente
apanhamos a A66 em direcção a León. Um pouco antes, saímos na saída 160 em
direcção à N625, que percorremos até ao nosso destino em Cangas de Onís.
Quando nos aproximamos dos Picos da Europa, damos-nos
conta que aquilo é algo especial. Existem muitas montanhas, até podem ser mais
altas, mas os Picos, parecem ser feitos para nos deleitar os sentidos.
De caminho até aos lagos de Covadonga |
Foi em Riaño que almoçamos e é a partir de aí que
começamos a dar-nos conta da grandiosidade daquele monumento da natureza. Ao
adentrar-nos no meio daquelas gargantas e serpenteando por entre os maciços e
gigantescos montes rochosos, salpicados de árvores centenárias, damo-nos conta
da nossa insignificante e débil existência.
Passado este breve momento melancólico, reparo também
que o tempo não está para cantigas. O céu encheu-se de nuvens e começou a
chuviscar, este facto, ligado ao conhecimento prévio de uma previsão
meteorológica pouco favorável, diz-nos que não vamos passar sede.
Seguimos caminho e …, bom, eu gostava de contar aqui tudo,
mas a verdade é que foram muitos os sítios de realce e difícil de dizer
exactamente onde, pelo que o melhor é passares também naquela estrada e esbugalhar
os olhos.
Chegados a Cangas de Onís, continuamos viagem conforme
previsto, rumamos até ao santuário de Covadonga, onde tem uma pequena caverna
com uma capelinha e uma cascata, tudo digno de se ver. Nessa altura caia um
chuvisco pesado que aconselhou encurtar o programa e fomos até ao hotel que
tínhamos reservado em Cangas.
No dia seguinte, toca a madrugar. O tempo tinha melhor
pinta e isso animou-nos.
Repescado do programa do dia anterior por causa da
chuva, dirigimos-nos aos lagos de Covadonga. Começo por disse que o belo daquilo
tudo não são os lagos, é tudo que está à sua volta, desde que começamos a subir
o maciço montanhoso. A estrada, estreita e serpenteada, começa a subir
lentamente, e a partir de determinada altura parece que tudo o que vemos foi
cuidadosamente montado para nos deleitarmos.
As motos estacionadas junto ao lago. A fundo, picos com neve |
Junto à estrada ( e algumas no meio dela) apareciam as
vacas todas relaxadas, com os seus ternurentos vitelinhos. Ohhhh! Os
vitelinhos, coisa mais linda e mais fofa! Só me apetecia saltar da moto e
dar-lhe beijos naqueles focinhos amorosos! Cheguei a jurar que nunca mais iria
comer carne de vitela, mas não sei se vou conseguir cumprir…
Visto da estrada, víam-se prados com cercas para recolher
os animais e ovelhas estrategicamente dispostas nos montes a pastar, tudo só
para nós vermos e tirar fotos (pensei eu).
Chegados ao lago mais afastado, e posso dizer que não
todos conseguem ter o privilégio de lá chegar em veículo próprio, devido às
grandes limitações por falta de lugares de parqueamento, uma vez mais fomos
brindados com uma envolvente ímpar. De um lado víamos uns picos donde se podia
ver neve ou seja, onde existe neve todo o ano e do outro as minas da Buferrera,
donde em tempos extraíram ferro e magnésio, agora todas bem arranjadinhas para
turista visitar e sacar muitas fotos.
Voltamos a descer, e seguindo a AS-114, em Las Arenas
viramos no cruzamento à direita e fomos até onde começa a funicular de Bulnes.
A funicular, é um eléctrico que se desloca por um túnel que nos leva até à
aldeia com esse nome. Não tivemos tempo disponível para o fazer, mas estivemos mesmo
ao lado, no miradouro/mirador de Camarmeña, cujo acesso é uma subida a pique,
mas que nos compensa com umas vistas, que são um verdadeiro espectáculo da
natureza! Ver para crer!
O teleférico de Fuente Dé |
Daí voltamos para trás, viramos à direita pela AS-114,
depois pela N-621 e almoçamos em Potes. Pela tarde fomos até mais um lugar
icónico, Fuente Dé, donde está o temível teleférico (para alguns), dando-nos a
possibilidade de desfrutar de mais uma paisagem única e vertiginosa.
Voltamos novamente à N-621 e seguimos até Portilla de
la Reina, e a partir daí subimos uma estrada muito serpenteada mas com bom piso,
a LE-2703. Paramos em dois miradouros, um no meio do caminho e outro antes de
começarmos a descer, o Puerto de Pandetrave.
Picos visto de onde ficamos alojados em Codiñanes |
Finalmente deslocamos-nos até àquele que seria o nosso
alojamento, pequenino (enchemos aquilo), mas num local idílico – Codiñanes de
Valdeón, do ponto de vista turístico (no inverno deve ser brrrrrrrr, de
gelar!). Aquilo é pequeníssimo e como deves imaginar, pouco tinha que ver para
além das impressionantes montanhas que nos rodeavam.
O melhor foi no dia seguinte. Fomos nas motos até Caín
de Valdeón, a uns 6 Km de onde estávamos alojados. Foi aí que fizemos um dos
percursos mais bonitos que já fiz na minha vida!
Ruta del Cares- a ribeira ao funnnndo! |
O seu nome é “Ruta del Cares” e só se pode fazer a pé.
Atravessamos túneis escavados na rocha onde a água caía como chuva, que quase
justificava levar um guarda-chuva. Durante a maior parte do caminho que fizemos,
tivemos sempre a acompanhar um ribeiro que cada vez se afastava mais de nós em
profundidade, chegando a estar a mais de 200 m. Impressionante! Do nosso lado esquerdo
ia uma levada de água, escavada na rocha, que acompanha este percurso até ao
miradouro da Carmameña. Mas por falta de tempo tivemos que voltar para trás,
pois ir e voltar seriam 24 Km e isso ocuparia um dia inteiro. Esta interrupção não
agradou a ninguém, mas com isso reforçou a vontade de regressar para acabar
aquele percurso e muito mais.
Uma anotação: se tirar fotografar poluísse tanto como
o motor de um carro, neste momento não se podia respirar nos Picos da Europa!
Entre todos tiramos quase uma tonelada de fotos. Não acreditas? Então vai ao
facebook e verás como é verdade!
Regressamos ao alojamento, os mais limpinhos tomaram
banho (eu não tomei, que sou rústico), fizemos os sacos e as maletas e rumamos
de regresso a casa antes que se fizesse tarde. Ainda tivemos que fazer uma
manobra logística altamente sofisticada (hehe) para abastecer de gasolina as
motos mais bebedoras, de forma a chegar à próxima bomba de gasolina. Bom, para
não ficares curioso, vou dizer como foi a manobra: um taxista foi buscar um “jerrican”
de gasolina e depois andamos a por um par de litros nas tais motos que não vou
dizer quais são.
Estrada de Caín a Cordiñanes |
Mais uma vez comemos em Riaño e a todo o vapor metemos
o azimute para casa. De repente parece que ia tudo louco, ou então tinha o
velocímetro avariado. Penso que seria a 2ª hipótese, pois nunca chegamos a ser interceptados
pela polícia.
O grupo estava cada vez mais homogéneo. Quando já
começávamos a conhecermos-nos todos, tínhamos agora que separar-nos. Uma pena,
mas em tudo há um princípio e um fim. Todos ficamos entusiasmados para uma
próxima, pois a organização foi impecável e todos deram a sua contribuição para
a boa disposição e o bom ambiente.
Eu pessoalmente deixo aqui este diário de bordo, que
pode resultar um pouco enfadonho com o vira à esquerda e vira à direita, mas
fiz isso propositadamente para que, quem o queira repetir ou fazer pela
primeira vez, consiga “à primeira tacada” ver os locais mais notáveis dos Picos
da Europa. Abaixo podem-se ver os mapas com os percursos.
A todos eles desejo que desfrutem tanto como eu
desfrutei.
Boas Companheiro.
ResponderEliminarRealmente foi um passeio fantastico. È daqueles sítios que repito as vezes que for necessárias pois é realmente um paraíso para o motociclista .
Desta vez na companhia do grupo Ducati Norte que tenho a salientar que fiquei surpreendido pela positiva, pois foi realmente interessante o companheirismo, a diversão pelo qual passamos.
Uma vez mais é para repetir....
Abraço