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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Passeio de clássicas em Abragão


Abragão? Onde é isso? dirão alguns. O mesmo pensei quando o casal amigo António Ferreira e Beatriz Máximo me convidaram a participar no passeio que eles têm organizado há vários anos.
O simpático casal organizador do passeio

Sorte a minha tê-los conhecido, ter uma moto que se enquadra no âmbito das clássicas (pese embora os possuidores das BMW e de outras europeias me olhem com alguma indiferença disfarçadaJ) e o ter aceite lá ir pela primeira vez.

Se calhar ainda não disse, mas tenho duas nipónicas clássicas - duas Honda CX500 de 78 e 81 (ver http://hondacx500portugues.blogspot.pt/) que me fizeram ver a estrada de outra forma, mais pausada, mais contemplativa e relaxada.

As concentrações de clássicas são um mundo à parte no mundo das motos. Nela convergem pessoas socialmente sãs e o melhor de tudo é que trazem às suas costas uma bagagem cultural infindável sobre uma vida passada e uma paixão: as motos antigas.

Não consigo dizê-lo de outra forma, é o sentimento nobre que me invade quando vejo os seus orgulhosos donos montados em motos cheias de carisma, autênticas obras de arte rolante. Nada que ver com aquelas concentrações de barulhentos motoqueiros sebosos, sedentos de cerveja e de excitações baratas prontas a servir e que de motos só sabem daquela que os trouxe até ali, e alguns nem isso!

Abragão é uma pequena vila situada a sul de Penafiel e a oeste de Marco de Canavezes, virada para o leito do rio Tâmega. Por ela passa a rota do românico, uma estrada que serpenteia por aquela região e nos leva aos lugares mais recônditos, mas também nos mostra o majestoso Douro e o seu afluente, o Tâmega.

Este foi o segundo ano em que participei e tanto num como no outro só estive presente num dos dois dias. Problemas de âmbito logístico L. Em ambas ocasiões os organizadores foram peremptórios: Não há atrasos e a saída é às 09h00!!! Apoiado!


Na recta da Tabopan, Vila Pouca de Aguiar
Saí de Chaves bem cedinho pela nacional, claro. O tempo sentia-se fresco, mas estava de maravilha, um sol brilhante que incitava a passear. Porém ao passar o Marão o tempo mudou de cara. Todo o vale desde Amarante até se calhar ao Porto, estava coberto com um espesso manto de nevoeiro que gerava um orvalho pesado pondo em dúvida se estaria a chover. Mesmo assim só cheguei às 09h15, é verdade, atrasado, mas tive a desculpa de vir de (relativamente) longe.

Cumprimentos feitos, foi só reabastecer e toca a sair. É assim mesmo!

Rumamos para Marco de Canavezes pela N320 e N210 e dali continuamos até Baião e Santa Marinha do Zêzere, que nada tem a ver com o nome do rio, bem pelo contrário está bem debruçada, sem se ver, para o rio Douro, onde paramos num agradável parque relvado de traço moderno. Nessa altura já estávamos a receber os benefícios do bendito astro-rei que tanta alegria nos dá nem que seja só pelo brilho que dá à paisagem!

Já tínhamos andado por essa altura cerca de 60 Km, nada mau para as velhinhas glórias. Pensava que a paragem era só para esticar as pernas e verter águas (eheh) mas num instante montaram um pequeno lanche com salpicão, bola de carne e um bolo de "não-sei-o-quê" que soube de maravilha.


Algures na serra do Montemuro
Prontinhos e aconchegados, arrancamos e descemos até ao rio e voltamos a subir até Resende. A partir de ali a vegetação alta e verdejante transformou-se em erva e arbustos rasteiros, o que sobrou de sucessivos e crónicos incêndios. Tínhamos entrado no temeroso e austero maciço da serra do Montemuro!


Ponte e torre medieval em Ucanha
Chegados a Bigorne atravessamos a N2 e dirigimo-nos até Tarouca, passando pelas isoladas e frias aldeias de montanha, Lazarim e Lalim. Dali fomos até Ucanha onde fizemos um breve alto para ver a torre e a ponte medieval. Segundo os entendidos foi ali que se iniciou o mau hábito de cobrar portagens nas pontes e infelizmente estendeu-se para muitas mais coisas.


As motos estacionadas em frente do museu do espumante Murganheira
Já estava a aproximar-se o almoço. Já tínhamos mais de 100 Km percorridos, mas ainda deu tempo para ir ao museu do espumante Murganheira, que com tantas voltas nem fiquei a saber bem onde fica aquilo. Ali visitamos o palacete, que segundo a guia era antigo até dizer basta (eheh, estava distraído quando falou), cujas salas estavam decoradas e preenchidas com motivos relacionados com o champanhe e no final provamos o famoso e bem adamado néctar.

De regresso a Tarouca, almoçamos no restaurante Tio Pedro onde comemos uma refeição ao gosto de todos (carne assada), feita por uma cozinheira que se revelou no final uma fã das motos, tendo tirado uma carrada de fotografias connosco. O almoço tinha sido tão bom e o ambiente tão familiar que quase me ía esquecendo de pagar!
Esta obra da engenharia é uma Nimbus 750 Luxus de 1938

Éramos 22 motos e quase o dobro de participantes, pois a maioria levava acompanhante - uma particularidade comum nestes passeios, a companheira costuma participar porque a coitada também ficou contagiada pelo vírus das motos antigas :-).

Uma Zundap com uma configuração de motor parecido às BMW
Estava calor, calculo que cerca de 30 graus naquele local abrigado com reflexos do sol. O pessoal não resistiu. Descascou-se e muitos não tiveram problemas inclusive em por os braços ao léu. Voltamos a subir em direcção à montanha. Agora vão entender porque chamei temeroso à serra do Montemuro. Começamos a ver uma línguas de nuvens alongadas ao longo da montanha e entramos nelas… foi como se passássemos do Brasil para a Antártida! O pessoal enregelou instantaneamente e da mesma forma parou para voltar a vestir aquilo que tirou. É que não dava para aguentar!


BMW R69 S
Depois disso voltamos a percorrer por outros caminhos a "dita-cuja-serra-cujo-nome-não-devemos-pronunciar" sob pena de desaparecermos nas suas entranhas, mas aquilo já não era o que foi: ficou tudo enevoado e estava uma brisa que até metia dó! O tempo tinha mudado.

Descidos até Cinfães, atravessamos a barragem do Carrapatelo e lá fomos nós de regresso ao ponto de partida, Abragão.

O evento ainda mal estava a meio. Seguia-se o jantar e depois todo o dia seguinte com outro passeio, mas sobre isso já não falo porque não estive presente.


Outra BMW algo modificada, mas muito bem acabada!
Eram 19h00. Sem grandes delongas despedi-me e voltei a abastecer para meter-me à estrada até Chaves. Desta vez e não sei bem porquê dei mais gás e a minha menina japonesa reagiu bem, com alegria, com o espirito desportivo com que foi construída. Andamos juntos naquele dia cerca de 500 Km e nem ela nem eu acusamos o esforço.

Para o ano quero participar nos dois dias, mas o organizador, o Ferreira, já me disse que talvez não haja mais. mas eu prefiro pensar que quando o disse, estava com a disposição da cabra que está a parir e grita - "nunca mais! nunca mais!", mas mais tarde, quando vê os seus belos e ternurentos cabritinhos olha e diz carinhosamente "veremos, veremos".

Assina, o cabritinho reconhecido. Parabéns!
Uma Honda CB450 dos anos 60
Pormenores da Zundap, com linhas arredondadas e bem terminadas
Não resisti gravar em vídeo o motor da Nimbus a trabalhar, um 4 cilindros em linha longitudinal,  onde os balancetes, estando inusualmente à vista, sobem e descem num frenesim incessante: 
 
 

1 comentário:

  1. Olá. O relato do passeio está perfeito. Não esqueceu detalhes interessantes. Agora o pormenor de "nunca mais! nunca mais!, com o passar do tempo, veremos..... Cumprimentos, Beatriz

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