Nos últimos anos tem havido uma grande evolução no que toca a comunicação entre passageiro e condutor e entre condutores de motos. Experimentei algumas soluções baseadas em rádio (CB e PMR) onde um kit de microfone e auscultadores, montados no capacete, eram conectados a uma unidade de rádio (walkie-talkie). Na verdade esta solução nunca funcionou em estrada (funcionava em fora de estrada onde as velocidades eram lentas o suficiente para não causar ruído de vento).
A evolução dos intercomunicadores por Bluetooth sempre me passou um pouco ao lado, uma vez que o limite de distância, até relativamente pouco tempo, era sensivelmente de 100 metros. Notoriamente pouco para uma comunicação entre motos, principalmente em auto-estrada. No entanto, sempre foram uma óptima solução para falar com o pendura!
Entretanto, nos últimos dois anos e com o surgimento do protocolo Bluetooth 2, as distâncias de comunicação cresceram significativamente, alcançando já 1,6 Km. Além disso, o surgimento da regra A2DP, veio permitir emissão de música e comandos de voz entre os dispositivos bluetooth.
Isso tudo levou-me a considerar a compra de um dispositivos destes. Depois de trocar algumas opiniões com colegas motociclistas e de pesquisar na internet, eis que me decidi por uns "Cardo Scala Rider G9". Arranjei um "sócio", uma vez que comprado em kit de 2 a coisa sempre fica mais barata, e lá encomendei o kit da Motocard.es
Recebi a encomenda e prontamente montei o intercomunicador no meu capacete, um Bell integral, os fios ficaram bem escondidos e o microfone de haste flexível ficou bem posicionado. No domingo, ontem, o meu "sócio" apareceu para um passeio e montamos o equipamento no capacete dele, uma vez que vieram em "kit", já estavam emparelhados. Ligamos as unidades e subimos para as motos, como só estávamos duas pessoas conectadas, podíamos falar em "full duplex", ou seja, ao contrário de um rádio, a conversa não era alternada, e podíamos falar os dois em simultâneo, sempre com uma qualidade de audio excelente. Eu estava particularmente séptico quanto a comunicação em andamento e ao ruído do vento, mas experimentamos falar com sucesso a velocidades acima dos 160Km/h e se a qualidade perde-se um pouco, a verdade é que chega bem para avisar de uma emergência ou perigo. Pela nossa experiência, e tinhamos ambos capacetes integrais, o limite para uma comunicação de qualidade fica-se pelos 130/140 Km/h.
No meu caso, eu não senti nenhuma diferença de peso ou aerodinâmica no meu capacete.
Eu utilizei a montagem em "grampo", mas também vem no conjunto uma montagem adesiva e um microfone menor, com fio flexível, que pode substituir o "boom mic" que vem montado.
_______________________«Encima montagem de grampo» «Em baixo montagem adesiva»_______________
A baixo fica um vídeo com a experiência do audio que uma pessoa receberia de uma chamada de telemóvel feita com este equipamento.
Aqui fica a recomendação, uma vez que utilizei e fiquei muito satisfeito com o resultado, ainda ficou faltando fazer a experiência de usar a função 1+8, que permite falarem até 9 pessoas, mas alternadamente, e até 4 utilizadores em "full-duplex".
Cumprimentos motociclísticos!
Comentário das imagens expostas
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
terça-feira, 12 de junho de 2012
Viagem pelo litoral Alentejano até ao Algarve
O trajecto |
Depois de 3 lés-a-lés e muitas viagens por
este país fora, tenho a impressão de conhecer bastante bem Portugal, mas a
encosta alentejana soa-me a muito vago, pelo que, sob o pretexto de ir ver uma
prova de WTCC a Portimão, resolvi no início deste mês, partir à descoberta da
beleza do litoral Alentejano.
Início do percurso |
Depois de pernoitar em Lisboa, arranquei
ao meio da manhã, dirigindo-me pelo itinerário mais direto, via ponte Salazar –
Almada – A2/IP7, saindo na nacional IC1 antes do cruzamento da Marateca.
O rio Sado e os seus arrozais |
Logo de início tinha decidido não ir a
Tróia, um lugar de belas e extensas praias, por ainda ter muito presente na
memória aquele local e por isso só considerei como verdadeiro início do meu
roteiro, quando passei Alcácer do Sal. E aí fui presenteado com um belíssimo
postal: o rio Sado, rodeado de verdejantes arrozais, com algumas cegonhas à
procura de algo para a sua dieta.
Santiago do Cacém |
Depois passei uma terra que em nada soa a
Alentejo – Santiago do Cacém. Cacém soa a Lisboa, mais por culpa de uma paragem
de comboio na linha de Sintra que lhe dá fama e é uma freguesia de Sintra.
Continuando, rapidamente passei ao largo
Grândola, pelo IP8, que me levou por vias largas (algumas por acabar) até
Sines. E aí tive o primeiro contacto com o mar. Estava tão apetecível que
acabei por parar e apreciar a paisagem com mais detalhe. O contraste era
grande: de um lado, convidativas praias de areia fina com o mar espraiado, e do
outro, uma gigantesca central termoelétrica com duas ameaçadoras chaminés a
apontar para o céu.
Sines: praia e poluição |
Saí da nacional N120/IC4 para uma estrada
secundária e depois disto foi como entrar no paraíso, que também é o início de
zona protegida (Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina). Depois de
praias e mais praias entrecortadas entre dunas altivas, cheguei a Porto Côvo,
uma terra que nos parece ser familiar e até dá saudades, mesmo sem ter lá ido,
muito por culpa do Rui Veloso. Foi a região que me pareceu menos explorada,
pese embora dar-me a noção que no pico do Verão, deve ser uma gigantesca
invasão do pessoal de Lisboa.
A beleza da encosta |
À entrada de Porto Côvo |
Passado este trio de locais
arrebatadores, entrei numa estrada muito interessante – a N120: um piso
perfeito, com muitas e bem desenhadas curvas, que mais me fazia sentir no Norte
do que no Alentejo.
Vila Nova de Milfontes: vista do outro lado do rio Mira |
Depois disto comecei a afastar-me do mar
até que atravessei Aljezur, do qual apenas consigo realçar o castelo que bate
nos olhos de qualquer visitante que vem do norte, lá no alto de uma pálida
montanha.
Com o mar cada vez mais longe, a paisagem
passou a ser mais seca e austera e por coincidência o sol começou a dar lugar a
uma névoa cada vez mais intensa. Vi uma placa para a direita a indicar Sagres e
foi por aí que eu fui – sempre a rumar para o mar! A paisagem alternava entre
longas retas e curvas que serpenteavam por entre montes cheios de vegetação
rasteira. Chegado a uma terra chamada Carrapateira, resolvi arriscar por uns
caminhos em terra e aí vi mais uma zona de encosta protegida, rodeada de
extensas dunas, mas também muito cuidada para o visitante poder apreciar, sem
estragar.
Zambujeira do Mar, praia |
A paisagem mudou de figura: as brilhantes
praias de areia, deram lugar a encostas agrestes com rochas e escarpados,
agravadas pelo céu cinzento, mas que não deixavam de ser de uma grande beleza.
Continuei a rumar para sul, e a névoa
cada vez mais densa, que tornava o ar marítimo cada vez mais desagradável. Parecia
que me estava a aproximar do cabo das tormentas!
N120 - curva bem redonda em Ocedeixe |
Cheguei a Vila do Bispo, já pouco
motivado pelo tempo e a tarde a findar. Mesmo assim resolvi ir à vila de Sagres,
apesar de já lá ter ido anteriormente. Arrependi-me. Depois de umas longas e
fastidiosas retas cheguei lá e vi… nevoeiro. Estive apenas o tempo suficiente
para tirar uma foto e regressei.
Chegado ao ponto inicial, não pensei noutra
coisa senão ir direto para Lagos, pois, para ver nevoeiro, podia fazê-lo na
casa de banho ao fim de 5 minutos de um banho quentinho! Hummm!
Estatística:
· Distância do percurso – 363 Km;
· Velocidade média (com paragens) – 50 km/h;
· Consumo – 4,7 l/100 Km;
· Ascensão acumulada – 2310 m;
· Ponto mais alto alcançado (Atalaia, Grândola)
– 320 m;
· Ponto mais baixo alcançado (vários locais)
– 4 m.
Aljezur e o seu castelo |
Cruzamento para Vila do Bispo e Sagres |
Carrapateira, junto ao mar |
Encostas rochosas |
Forte de Sagres |
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Passeio no interior norte - descobrir o IC5
A azul - o trajecto efectuado |
Já andava algo faminto, quase desesperado
em fazer uma cavalgada na minha RaTa.
Tinha ouvido falar da inauguração do
último troço do IC5, mas mesmo na net a informação é escassa. Por isso, de um
momento para o outro agarrei no meu GPS e lancei-me à estrada.
Fui em direcção à vila onde diziam que
tinha o seu início e chegado a Murça, nem sequer uma placa a indicar onde ou
para onde era (por sinal o Presidente da Câmara achou tão importante a obra que
nada fez). Lá tive que utilizar a técnica mais eficiente para colher
informações fidedignas e dirigi-me a um posto de gasolina. Aí fui confrontado
com a primeira mentira: afinal o IC5 não começa em Murça, quem quiser desfrutar
desta grande infra-estrutura, tem que andar mais 11 Km. Lá tive que fazer as
apertadas e fastidiosas curvas da famosa “Rampa Porca de Murça” (há quem goste,
eu não) e no cruzamento com o IP4 (em obras) lá começou o famigerado IC5.
Início do IC5 |
Depois de atravessarmos o concelho de
Alijó, rapidamente passamos Carrazeda de Ansiães. Note-se que em mais de metade
do percurso do IC5, até Mogadouro, concretiza uma ligação outrora inexistente.
Íamos então ao largo de Carrazeda. Nem se
chega a ver. De imediato o sentido inflecte de Este para Nordeste, passando
Vila Flor quando, passados um par de quilómetros, desaguamos numa rotunda sem
qualquer indicação de continuidade do IC5. Antes disso, tinha visto que para a
direita podia rumar para a Guarda via IP2 e contornando a rotunda poderia virar
para o IP2 em direcção Norte, para Macedo de Cavaleiros, etc..
Antes do cruzamento para Vila Flor |
A minha reacção foi não reagir; continuei
pela nacional até que me fartei e vi que para ali não era de certeza o
famigerado itinerário. Mais uma vez dirigi-me ao um posto de informação, quero
dizer, de combustível, e aí informaram-me que a direcção era do IP2, mas 2 Km
depois teria uma indicação para seguir o IC5. Talvez para me sentir menos
estúpido, também me confirmou que não faltavam por aqueles lados, condutores
enganados, devido à sinalização insuficiente. É assim que andamos (mal)
governados.
Pois bem, lá voltei para trás e depois de
entrar no IP2, apareceu a dita indicação para virar à esquerda a 1500m em
direcção a Mogadouro, etc..
Muitas pontes e muitas retas |
A partir daqui o trajecto passou a ser
mais isolado de povoações e terrenos agrícolas, com muitas subidas e descidas,
rodeadas de mato de giesta, urze, e alguns pinheiros e carvalhos que se devem
ter salvado da devastação de fogos de outros anos.
No entanto era inevitável apreciar o
verdejante da paisagem. Depois da perspectiva de uma grave seca, fomos
abençoados com uma abundante chuva, resultando numa Primavera glamorosa. Agora
há que saber apreciar.
Alfandega da Fé também passa
despercebido, mas em contrapartida deparamo-nos com um dos mais belos postais
do trajecto – Mogadouro, enquadrado por verdejantes campos de cereais.
Paisagem para o rio |
A partir daqui até ao fim do percurso em
Duas Igrejas, (a 8 Km de Miranda do Douro) seguiram-se retas de perder de vista,
sempre acompanhado pela N102, convidando-me a enrolar o punho, mas não caí na
tentação, pois o objectivo era muito mais enriquecedor – tão somente apreciar a
paisagem.
Uma coisa que reparei em todo o trajecto,
é que o mesmo estava literalmente “às moscas”. Um carro ou um camião de vez em
quando…. mas que é que se passa?, perguntei eu a mim próprio. Os combustíveis
estão caros, mas não existem portagens, pelo menos por agora. Depois na estrada
nacional em direcção a Vimioso constatei a mesma coisa, chegando à inevitável
conclusão de que todo o norte interior está deserto. Digamos que ter feito o
IC5 naquele local, é como fazer um restaurante num cemitério e esperar que os
residentes lá vão. Tarde demais.
Mogadouro |
Também vi por três vezes cartazes de
agradecimentos ao nosso mais recente ex- primeiro-ministro: “ Obrigado
Sócrates, o povo de/o PS de / o concelho de (…) está agradecido”. Bom, sobre
isso eu só tenho a acrescentar que não só eles, devem estar muito agradecidas,
mas também as empresas construtoras, os seus dirigentes, nos quais estão
incluídos políticos e respectivas famílias, a banca e todo o país em geral, por
toda a dívida acumulada e que agora temos que pagar com elevados juros e
sacrifícios.
Passado Vimioso, armei-me em inteligente
e segui as placas para Bragança, ignorando o (bom?) conselho do GPS que me
dizia insistentemente para ir para Norte pela N218-2, por Pinelo.
Ainda não sei se fiz bem ou mal, só sei
que a estrada era larga mas algo irregular, desembocando no IP4 sem contar, já
muito perto da fronteira de Quintanilha.
Ao aproximar-me de Bragança, levei com
mais uma rasteira. Entrei sem contar na nova auto-estrada e ainda tremi quando
vi a anunciar “troço com portagem”, mas felizmente saí imediatamente antes,
pela entrada Sul da cidade (o IP4 contorna pelo Norte e a AE pelo sul).
Depois de uma demorada paragem, lá fui eu
para a minha estrada preferida em direcção a Chaves– a N103. Já tinha tantas
saudades, que nem me rendeu nada. Apenas o sol, a aflorar no cimo das
montanhas, me fazia lembrar que o dia estava a chegar ao fim.
Estatística:
· Distância do percurso – 381 Km;
· Distância do IC5 (aprox) – 140 Km
· Velocidade média – 82 km/h;
· Consumo – 4,9 l/100 Km;
· Ascensão acumulada – 5871 m;
· Ponto mais alto alcançado (Sta. Leocádia,
Carrazedo Montenegro)– 922 m;
· Ponto mais baixo alcançado (perto Vila
Flor – IP2)– 195 m.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Honda VFR1200X Crosstourer– Uma sedutora com muito músculo
A elegante Honda VFR1200X Crosstourer cor preta |
A Crosstourer é uma trail elegante (crossover,
dizem os da Honda) que, apesar dos seus cerca de 280 Kg em ordem de marcha,
transmite ao olhar uma sensação de leveza. Pela primeira vez nestes últimos
dois anos, foi esta atraente moto que me fez levantar a hipótese de trocar pela
minha RT. As expectativas eram elevadas, e mal tive a oportunidade, fiz-me à
estrada e fui à MotoTrofa fazer um pequeno teste no modelo com velocidades
manuais.
Equipamento
Vista lateral direita |
Mal me sentei na Crosstourer, em poucos
minutos de observação desabou sobre mim a desilusão. O aspecto geral dos comandos
e painel de instrumentos é bom, mas é quase igual ao da NC700X que custa
exactamente metade do preço (!) e por isso esperava melhor, ou pelo menos
diferente.
Painel
de instrumentos
O painel de instrumentos, foi o que menos brilhou nesta moto |
O painel de instrumentos tem a mais que a
NC700X um computador de bordo (consumo instantâneo, médio, etc) cujo comando é
junto ao mostrador (a Suzuki VStrom650 tem o botão junto à embraiagem e custa
menos 5.000€). Nele também se pode ver a velocidade engrenada, mas esta tem um pequeno
despiste – em vez de indicar o ponto morto (N-neutral)) no mesmo local onde
aparece o número da velocidade, mostra mais acima com uma luzinha verde. Por
baixo do painel vê-se um grande buraco que deixa à mostra a parte de trás do
farol, coisa que nem na NC700X isso acontece.
Um painel pequeno, mas com muita informação |
Também não entendo porque é que, ao rodar
a chave da ignição para a ligar, o farol dos médios acende de imediato em vez
de esperar que a motor arranque, evitando gastos de bateria desnecessários.
Conheço motos em que isso não acontece…
Um grande botão para um bom buzinão |
A Honda continua com a sua inexplicável
insistência de colocar a buzina no lugar dos piscas e lá andava eu alegremente a
buzinar nas mudanças de direcção e nas ultrapassagens e a pedir desculpa
verbalmente à parte de dentro do meu capacete.
Depósito
de gasolina
O depósito é metálico |
Ao meter gasolina (a marca recomenda 95
octanas) constatei que o depósito (ainda) é metálico e segundo dizem leva 21,5
litros. Não é que tenha medo de que enferruje a curto de prazo, mas os de
plástico de certeza que não tem nem nuca terão esse problema! A tampa do
depósito não precisa de rodar a chave para o fechar; tem um trinque e por isso
basta empurrá-la, mas por outro lado também não deixa retirar a chave enquanto
está aberta!
A tampa tem trinco, mas não deixa sair a chave! |
Todas estas observações provavelmente
devem-se a estar mal habituado com a minha RT, mas não posso deixar de ser
exigente pois estamos a falar de uma trail topo de gama, que com os acessórios
(que também são polémicos quanto ao preço) pode ultrapassar facilmente os
17.000€!
Tranca
da direcção e manetes
Continuando com os pormenores, a tranca
da direcção só fecha numa posição, quando virada para o lado do descanso
lateral. O quê? Trancar só para um lado chega bem? Pois eu acho que não; para
um objecto com este peso, existem alturas em que dá jeito acomodar a moto de
acordo com o piso onde vai ficar a repousar e o facto de poder jogar com a
direcção para os dois lados faz a diferença de a andar a empurrar à mão ou não,
para a recolocar em local mais adequado.
As manetes da embraiagem e do travão são
reguláveis, mas para os meus diminutos dedos, mesmo na posição mais curta tinha
que rodar a mão para poder manobrá-las. Será que cresceram muito as mãos aos
japoneses?
Com a moto parada faz-se notar o seu
grande peso, sendo necessário algum esforço para a tirar do descanso ou para
fazer algum pequeno movimento. De forma alguma convida a fazer manobras rápidas
sem a necessária precaução, pois sente-se que a partir de um determinado ângulo
de inclinação, já ninguém pode com ela.
Pousa-pés
e porta-bagagens
Pousa-pés do passageiro |
Acho as linhas gerais da moto muito
bonitas. Excluindo aquilo que já disse sobre o painel de instrumentos e área
circundante, todo o resto da carroçaria está plena de materiais de boa
qualidade. Curiosamente o pousa-pés de borracha do condutor é igualzinho ao de
uma NTV 650 de 93 que tenho em casa. O pousa pés do passageiro, em alumínio, tem
já uma determinada forma que permite encaixar as malas laterais e o portas
bagagens também tem boa pinta, onde também inclui lateralmente um par de
encaixes de cada lado para as ditas malas.
Assento
e escape
Espaço por baixo do assento |
O assento é só de uma peça e o lugar do
condutor é acentuadamente cavado, provavelmente para diminuir a altura ao solo;
apesar disso pareceu-me oferecer uma comodidade correcta. Por baixo dele tem-se
fácil acesso à bateria e à caixa de fusíveis. Existe ainda um pequeno
compartimento para coisas diversas, como possa ser um cadeado e ainda tem um
encaixe para a bolsa de ferramentas que vem com a moto.
O escape está bem acabado em aço inox,
que termina em duas saídas, estando muito bem integrado no conjunto da moto.
As
rodas
Roda dianteira |
Convém destacar aquilo que é belo. Com uns
aros pretos e todas raiadas, encaixam de maravilha naquela máquina, em especial
a detrás que está presa no basculante monobraço e veio de transmissão, que é
outra bela peça de arte. As medidas são tipicamente trail: 19’’ à frente e 17’’
atrás.
O
preço
O preço de 14.000€, até nem é muito caro (custa
menos 500€ que a Super Ténéré, mas não tem o modo de níveis de potência), tendo
em conta que tem um quadro em alumínio perimetral, controlo de tracção
desconectável, ABS combinado, veio de transmissão, um conjunto de rodas
tubeless com raios e um motor com uma das configurações mais caras do mercado:
4 cilindros em V… Em França o preço é o mesmo, mas em Espanha custa mais
1.600€!
A bela roda e o terminal do escape com duas saídas |
Onde não pouparam o cliente foi nos
acessórios: sendo as malas compradas individualmente, as laterais custam 1370€
e o top case 726€, tendo disponível um “pack” com as três, por 1836€. O
pára-brisas mais alto custa 160€, os punhos aquecidos, cerca de 300€ e o
descanso central, 215€. Tudo somado, 2511€, mas se calhar também dava jeito um
alarme (cerca de 280€), e os tubos decorativos/ protecção e os faróis de
nevoeiro (930€). Ufff!
Malas
laterais e top-case
A Crosstourer com todos os extras, incluindo top-case e malas laterais |
Menção especial para estes acessórios
caros, mas indispensáveis para quem viaja. Sim, são malas caras, mas encaixam na
perfeição, sem ser necessários quaisquer suportes inestéticos. Não as vi neste
teste, mas vi-as exteriormente no salão de Milão. São de alumínio, mas tão fino
que me pareceram demasiado frágeis. Imagino o que será se caiem ao chão ao
roçam em qualquer coisa. É que nem se podem pintar ou reparar! Preferia que
fossem mais à moda do alumínio robusto das GS ou da Touratech. Ao preço que são
e pelo frágil que parecem, penso que deve ser bem ponderado se vale a pena. De
qualquer forma vai ser sempre complicada decidir, pois a alternativa será
sempre colocar aqueles horríveis ferros para suporte. Eles (a Honda) sabem bem
disso.
Dinâmica
Chegada a hora de ver as qualidades
dinâmicas, o arranque do motor é quase instantâneo. Um segundito de motor de
arranque e é vê-lo a ronronar com a sonoridade muito própria de um V4. A
primeira e segunda velocidade fazem um “clanc” quando engrenadas em parado, mas
em andamento são de todo uma suavidade.
Em cidade a moto sente-se algo pesada e à
medida que se acelera, parece que o peso se vai evaporando. Chegado à zona de
curvas, surpresa, a moto deita-se com uma facilidade incrível e o motor, esse
sim é o grande protagonista de todo o conjunto. Com os seus limitados 129 cv às
7.750 rpm (a versão da VFR1200F tem 170cv às 10.000 rpm!) e um binário poderoso
de 12,8 Kgm às 6500 rpm, a moto é extremamente elástica, permitindo acelerar em
6ª velocidade, em plano, a partir praticamente das 1500 rpm. O motor emite um
barulho como se fosse protestar, mas em décimas de segundo atinge as 2000 rpm e
daí em diante impulsiona-nos com uma pujança digna de uma desportiva. Quero dar
uma nota negativa ao conta-rotações. Quando digo atrás 1500 rpm, quero dizer
mais ou menos, pois a escala é tão pequena que mal dá para ver. O estilo
compacto é muito bonito, mas nem por demais. Neste caso um conta-rotações de
formato analógico/esférico seria bem melhor.
Veio
de transmissão
O motor e veio de transmissão |
Dentro do pouco que andei, o veio de
transmissão que segundo parece é isento de manutenção, nem o senti, o que é um bom
indicador, pois é sinal que não tem reacções estranhas ou parasitas. Porém esta
informação não deve ser considerada fidedigna, pois não fiz suficientes
quilómetros, acelerações e reduções bruscas que me permitam afiançar este dado.
Suspensões
O curso das suspensões, são um mistério.
A marca não diz nada e as revistas pouco ou nada adiantam. Penso que é por
lapso. Só consegui ver num teste francês que a da frente tem 165mm.
A suspensão da frente e o radiador de forma curva |
É o normal para uma trail de vocação
estradista (a Super Ténéré tem 190mm e a Multistrada 170mm) . Isto só para
dizer que esta moto é óptima para desenrascar na cidade a subir passeios,
pequenos trajectos em estradões, mas se formos além disso arriscamo-nos a, no
mínimo, deixar marcas na carenagem. A suspensão de trás é segundo a
nomenclatura da Honda, dotada do sistema pró-link, o que quer dizer que tem
bieletas, que a tornam mais progressiva (teoricamente). Curiosamente numa
aceleração que fiz em piso irregular ela até saltitou bastante, ou seja até foi
pouco progressiva, mas isto não deve ser visto como referência, pois para além
de não ter andado o suficiente, elas são multi-reguláveis, e pode até ter
havido uma “estrela iluminada” que tenha mexido nelas, como aconteceu uma vez
que fui testar a Ducati Multistrada: ao ter sentido as suspensões algo mais
duras do que seria normal (são reguladas electronicamente), perguntei ao asno
do vendedor e ele confessou-me que tinha alterado tudo para por ao gosto dele!
Sobre este tema cabe ainda realçar que a suspensão detrás tem um prático
manipulo para regular a compressão da mola, quando se leva passageiro e/ou
bagagem.
A
dupla embraiagem
A Honda tem neste momento em curso uma
grande aposta que quer generalizar em muitos dos seus modelos: a dupla
embraiagem. Nos carros está a vingar e nas motos a Honda é pioneira. É sem
dúvida a forma automática mais eficiente e mais desportiva ao mesmo tempo,
conseguindo melhores consumos do que o modelo manual. Este sistema já está
implementado na VFR1200F, NC700X, NC700 Integra, NV700S e na moto em análise.
Infelizmente ainda não está disponível para o público, mas a Honda fez questão
na sua apresentação à imprensa de por todos o s jornalistas a andar numa.
Protecção
aerodinâmica
O pára-brisas opcional |
A moto que experimentei já tinha o
pára-brisas alto (opção) e estava colocado na sua posição mais elevada, de duas
possíveis. Mesmo assim senti no topo do capacete alguma interferência do vento.
Nada que ver com a protecção que oferece a VStrom650. Os braços também estavam
expostos ao vento, mas isso já considero normal para este tipo de moto.
Consumos
No trajecto que fiz, algo de cidade,
estrada nacional, e a passagem nalgumas localidades, o computador de bordo registou
no final uma média de 6,8l/100Km, o que me pareceu bastante ajustado à condução
que fiz e tendo em conta o motor e potência que a moto tem. Porém nos testes
dos jornalistas (em motos com dupla embraiagem), afiançam uma média de 5,0l/100
a andar bem e outra 5,4l/100 em velocidades legais. Talvez seja a dupla
embraiagem que faz a diferença, mas estou convicto que este modelo nem em ponto
morto faz menos de 5 litros. tenho a convicção que a sua média justa a
velocidades legais, nunca será menos de 6,0 litros.
Conclusão
A Crosstourer é uma trail elegante e
sedutora, que esconde o seu peso por baixo de umas linhas fluídas e ligeiras,
nem fazendo desconfiar que alberga um possante motor V4 de 1200cc.
Para quê 129cv, se depois temos uns
estreitos e duros pneus trail de 150mm
para transmitir essa potência ao chão? O princípio é: quanta mais potência,
mais largos e macios devem ser os pneus, senão torna-se um contra-senso. Acho
muito mais correto aquilo que fez a Ducati com a sua Multistrada, ao colocar
rodas com medidas de estrada (17’’) e vários níveis de potência à disposição.
Proporcional à elevada potência desta moto, está o seu peso, que penaliza de
sobremaneira as manobras em parado/ baixa velocidade e a sua dualidade
campestre.
Quando conduzimos não vemos o aspecto
exterior da moto; vemos sim o quadro de instrumentos e tudo o que está ao seu
redor. Foi exactamente nessa parte que a Honda “cortou as unhas rentes”, ao
universalizar diversos componentes numa tentativa de controlo de custos, só que
quem paga mais também deve querer melhor, certo?
Por tudo isto posso dizer que a Honda
Crosstourer encantou, mas não me convenceu. Acho que vou esperar pela futura
Pan European.
quinta-feira, 1 de março de 2012
Rio Douro ... INCRIVEL ...
No passado sábado dia 25 de Fevereiro um grupo de 3 artolas decidiu fazer uma pequena volta de mota para aproveitarmos os dias e de sol e de temperaturas agradáveis.
Arrancando de Chaves seguimos para Mirandela, Vila Flor, Vila Nova de Foz Coa, São João da Pesqueira, descendo depois por uma estrada maravilhosa com uma paisagem inacreditável até o nosso querido Rio Douro. Após um repasto na Régua seguimos em direcção de Vila Real e claro com termino em Chaves.
Foram 312 kms feitos com muita vontade pois a seca que se fez sentir ao longo do inverno fez com que este passeio soubesse realmente a pouco.
Tenho apenas a salientar que foi uma surpresa muito agradável a minha CBR 900 RR, pois este modelo não só me faz recordar momentos nostálgicos da minha infância como se revelou uma surpresa muito agradavel a condução ... curvar, acelerar,suspensões... tudo menos a posição de condução como é evidente.
Um abraço
Filipe Lage
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Honda NC700X – A medida justa
Vista frontal |
É normal levarmos para casa (bem) mais do que aquilo
que queremos. Passa-se isso com todo o tipo de objectos. É o carro cheio de
extras que não se usam, o telemóvel que
é só para fazer chamadas, mas tem também máquina fotográfica, gravador de voz,
e uma infinidade de funções. No relógio só se vêem as horas mas também tem
cronómetro, fuso horário, alarme etc..
Com a nova NC700X, deixas de ter as sobras
indesejadas, pois passas a ter apenas aquilo que usas.
As síglas “NC” querem dizer New Concept – novo
conceito. A moto tem um ar normal, mas se estivermos atentos aos pormenores,
verificamos que a Honda, com este lançamento está a marcar um novo rumo no
mundo das motos.
A família NC é composta por esta – a X, um modelo de
estrada com configuração trail, a híbidro scooter-moto Íntegra e a versão sem
carenagem – a S.
O visual é nitidamente de inspiração trail |
Já em contacto
com a moto, verifiquei que tem um aspecto moderno e está muito bem acabada para
aquilo que custa – 6.000€. Os painéis combinam bem e estão bem acoplados, não se
vendo nenhum parafuso de fixação. Os comutadores são os comuns a outros modelos
como é a VFR800X e a CBR1000 e o mesmo se aplica ao (mini) painel de
instrumentos, que está muito bem integrado na carenagem frontal e pequeno vidro
deflector, dando-lhe um ar muito leve do ponto de vista do condutor. O mesmo se
aplica à traseira, muito esguia, com umas estilizadas e práticas pegas para o
passageiro.
Uma traseira com "look" muito desportivo |
Vamos agora às
particularidades do novo conceito.
A Honda aplicou
em comum aos três modelos da família NC, um novo motor feito de raíz, com 2
cilindros em linha bem inclinados para a frente, 700 cc, assente num simples
quadro tubular, suspensões de 150 mm de recorrido (a Integra só tem 120) e
rodas de estrada de 17´´, cuja roda traseira tem 160 mm de largura.
O pneu de 160 mm de largura dá um bom compromisso entre agilidade e aderência |
A moto do
nosso teste tem uma particularidade única que comparte com a S – no lugar
tradicional do depósito de gasolina, tem um generoso compartimento onde cabe
“na boa” um capacete integral. O meu coube, e é algo sobredimensionado, mas
antes também deu para transportar a minha bolsa porta-documentos que levo
habitualmente comigo. A fechadura abre este compartimento, rodando-a para um
lado e rodando para o lado contrário é aberto o assento do passageiro, onde
está o bocal do depósito de combustível de 14 litros. Para abastecer,
levanta-se o assento, o qual é sustido por uma pequena alavanca que se fixa no
acto. Tudo muito prático.
Um painel bem pequeno, mas bem acabado |
Em cima da
moto, nota-se o vidro pára-brisas muito pequeno que dá uma reduzida protecção
do vento; no entanto existe um vidro “maiorzinho” da marca, em opção.
A sonoridade
do motor ao ralenti é o característico de um bicilíndrico. É discreto mas com
uma sonoridade algo rouca, que com a aceleração e o ruido do vento, deixa-se de
ouvir.
O generoso compartimento |
Já tive e
experimentei umas quantas dezenas de motos, mas confesso que pela primeira vez
na minha vida não me custou esgotar as rotações de um motor. Isto porque, numa moto
muito potente atingem-se velocidades instantâneas assustadoras e proibitivas e
se for pouco potente, nunca mais se chega ao fim do conta-rotações. Pois bem, a
grande revolução desta moto é que este motor tem a medida justa. Acelera com
grande vigor tal qual uma 700 cc, até às 6500 rpm e aí aparece o corte de
ignição (deixa de funcionar). E segundo a marca, gasta como uma 250 cc – 3,6 l/100Km! (nos testes
das revistas registaram uma média de 4,6l).
O compartimento só com as ferramentas e livro de instruções |
Mas não penses
que a moto anda pouco. Se fores destravado, podes dar imensas receitas ao
estado em multas por excesso de velocidade, pois atinge os 190 Km/h reais!
O assento do passageiro levantado para meter gasolina |
Os modelos NC
têm disponíveis dois opcionais: o ABS com travagem combinada e o exclusivo sistema de
dupla embraiagem. O modelo que ensaiei não tinha nenhum destes equipamentos,
que decerto tornam a moto muito mais interessante, em especial a dupla
embraiagem. Se funcionar como o sistema que experimentei na DN-01, é
simplesmente fantástico. O único contra será que o C-ABS custa mais 500€ e a
dupla embraiagem, mais 1000€. Tentador...
A haste rebatível que segura o assento |
A moto a
curvar sente-se muito leve, pese embora os mais de 200 Kg. A travar não é
brilhante (apenas um disco à frente), mas cumpre a sua função com segurança.
Com a NC700X,
a Honda pretendeu lançar uma moto moderna, atractiva, prática e económica, com
um preço contido, o que penso que conseguiu em pleno. Não será alheio à
contenção de despesas, o facto de só ter um disco à frente e os dois cilindros
convergirem logo à saída num só colector de escape (solução que nunca vi antes), e as
suspensões, pese embora o seu bom funcionamento (algo duritas), são básicas sem
qualquer regulação (que às vezes só serve para fazermos asneiras). Realço os
150 mm de recorrido das mesmas (o normal numa moto de estrada é 120 mm), que dá
para subir e descer passeios com alguma facilidade e alguma que outra incursão
cuidadosa em caminhos.
O motor, com
uma rotação máxima de 6.500 rpm, decerto vai durar uma eternidade, o que dá
para prever uma longa duração e boa fiabilidade.
As estilizadas asas para o passageiro |
Se és um
rapaz/rapariga moderno(a) mas calmo(a), que não gosta de ter mais do que aquilo
que usa, e não és como aqueles famigerados motoqueiros que só saem 56 dias/3.000
Km por ano a acelerar como desalmados (deixando por vezes a pele no alcatrão),
aprecias a economia, leva-la para o trabalho e até fazes umas saídas de passeio,
esta é a tua moto.
Os dois cilindros deitados para a frente |
Melhor ainda, penso que até devia ser a moto de 80% dos motociclistas portugueses, pois muitos têm-na estacionada na garagem, porque nas primeiras vezes que andaram assustaram-se, pois pensavam que era um brinquedo.
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