Por ocasião da revisão dos 21 mil K da minha RaTa no concessionário BMW em Aveiro, deram-me a oportunidade de dar uma voltinha na novíssima K 1600 GT, muito por gentileza do seu técnico de vendas – João Gonçalves (a ele o meu muito obrigado), pois a mesma estava semi-desmontada para colocação de acessórios.
Convém antes de mais esclarecer que, qualquer semelhança da GT com a minha é pura coincidência, pese embora se destinarem ao mesmo tipo de uso e terem muitas semelhanças nalguns componentes. Talvez por isso, se tivesse uma GT, nunca lhe chamaria RaTa, pois a GT é muito mais possante. Decerto iria chamar-lhe um nome algo mais másculo (pénis?). Apesar de tudo a RT é a minha referência e por isso é com ela que vou comparar a GT.
A diferença mais palpável é sem dúvida o nº de cilindros – 6, 3 vezes mais que a RT! Ao andar na GT, sente-se um binário poderoso quase na mesma proporção do número de cilindros. É esta pujança que nos permite questionar-nos, para quê velocidades automáticas? Depois de engrenada a sexta velocidade, ficamos com a sensação de que não é necessário mudar mais. A 30 Km/h e cerca de 1000 rpm, nada reclama.
O acelerador já não tem cabo, é electrónico, muito sensível ao tacto. Os seis cilindros a trabalhar ao ralenti, parecem um zangão zangado. Ao arrancar até tinha medo de acelerar, mas depois verifiquei que o motor até nem é muito brusco, mas cuidado com a genica dele. No entanto o som (não me atrevo a chamar-lhe ruído) parece estar constantemente a avisar-nos que aquilo não é um brinquedo.
A posição de condução é para mim, simplesmente perfeita. Tem o assento ligeiramente mais baixo e o guiador obriga a ir um pouco mais inclinado para a frente, a aproximar-se de uma posição turístico-desportiva, mas longe desta última.
A curvar nota-se mais o peso que na RT, no entanto deixa-se levar sem esforço, com a vantagem de não precisar de praticamente de reduções de caixa nas curvas mais lentas. Consumos? Quando arranquei o computador marcava 6 l/100 e ao regressar marcava o mesmo. Nada mau para uma 1600.
Já a tinha visto em fotos e algumas referências positivas sobre a sua ligeireza para os seus 330Kg (depósito cheio), no entanto esperava que fosse mais “gorda”. Tendo os pés mais perto do chão e estreita entre as pernas, acaba por compensar o seu maior peso em relação à RT. Por outro lado o conjunto do painel de instrumentos e retrovisores, acabam por lhe conferir um ar mais esguio e ligeiro.
Os comandos nos manípulos são muito parecidos à RT, no entanto as funções são muito diferentes. Nota relevante para o computador de bordo, estilo TFT a cores, perfeitamente legível, com todas as funções – rádio, suspensões electrónicas, GPS, pressão dos pneus, aquecimentos dos punhos e dos assentos, níveis de potência do motor, nível da gasolina, temperatura do motor, temperatura ambiente, etc. Na RT é mais imediato o acesso às funções, mas na GT com habituação também acedemos rápido, mas acima de tudo o aspecto é simplesmente fantástico.
Quase me ia esquecendo de um equipamento único no mercado, de estreia mundial – o farol direccional que aumenta a luminosidade nas curvas. Como não utilizei, não posso dizer nada, mas decerto deve ser muito útil… à noite, claro!
É difícil por defeitos a esta moto. Estamos a falar do topo de gama da BMW - 25.500 € de moto (GPS incluído)! Tal como me custou um pouco adaptar-me à caixa de velocidades da minha RaTa, com a da GT também não me entendi muito bem. Os travões da frente, aparentemente iguais aos da RT, não é que travem mal, mas pareceram-me um pouco curtos para a potência e peso desta máquina. Se lhe colocassem uns radiais, nem que fosse só para encher os olhos, penso que não tinha nada de mais.
Por fim vamos àquilo que é mais subjectivo – as suas linhas. Ao contrário da sua antecessora K1300GT, considero a 1600GT lindíssima. Tem umas
formas muito estilizadas, que aliadas à qualidade e ao pormenor dos seus acabamentos a tornam quase perfeita. Até as malas laterais são uma autêntica escultura, as quais são destrancadas com uma simples pressão num botão existente no manípulo direito, em conjunto com dois pequenos compartimentos existentes em cada um dos lados das carenagens laterais.
Findo este pequeno teste regressei à minha calma e descontraída RaTa, mas com pouca vontade de regressar pela aborrecida auto-estrada. Por isso, e porque o tempo ameno assim o convidava, desviei a minha rota pela serra do Caramulo e em Lamego voltei a sair da linha e fui pela nacional até à Régua.
Que mais é que se pode pedir de uma revisão?