A azul - o trajecto efectuado |
Já andava algo faminto, quase desesperado
em fazer uma cavalgada na minha RaTa.
Tinha ouvido falar da inauguração do
último troço do IC5, mas mesmo na net a informação é escassa. Por isso, de um
momento para o outro agarrei no meu GPS e lancei-me à estrada.
Fui em direcção à vila onde diziam que
tinha o seu início e chegado a Murça, nem sequer uma placa a indicar onde ou
para onde era (por sinal o Presidente da Câmara achou tão importante a obra que
nada fez). Lá tive que utilizar a técnica mais eficiente para colher
informações fidedignas e dirigi-me a um posto de gasolina. Aí fui confrontado
com a primeira mentira: afinal o IC5 não começa em Murça, quem quiser desfrutar
desta grande infra-estrutura, tem que andar mais 11 Km. Lá tive que fazer as
apertadas e fastidiosas curvas da famosa “Rampa Porca de Murça” (há quem goste,
eu não) e no cruzamento com o IP4 (em obras) lá começou o famigerado IC5.
Início do IC5 |
Depois de atravessarmos o concelho de
Alijó, rapidamente passamos Carrazeda de Ansiães. Note-se que em mais de metade
do percurso do IC5, até Mogadouro, concretiza uma ligação outrora inexistente.
Íamos então ao largo de Carrazeda. Nem se
chega a ver. De imediato o sentido inflecte de Este para Nordeste, passando
Vila Flor quando, passados um par de quilómetros, desaguamos numa rotunda sem
qualquer indicação de continuidade do IC5. Antes disso, tinha visto que para a
direita podia rumar para a Guarda via IP2 e contornando a rotunda poderia virar
para o IP2 em direcção Norte, para Macedo de Cavaleiros, etc..
Antes do cruzamento para Vila Flor |
A minha reacção foi não reagir; continuei
pela nacional até que me fartei e vi que para ali não era de certeza o
famigerado itinerário. Mais uma vez dirigi-me ao um posto de informação, quero
dizer, de combustível, e aí informaram-me que a direcção era do IP2, mas 2 Km
depois teria uma indicação para seguir o IC5. Talvez para me sentir menos
estúpido, também me confirmou que não faltavam por aqueles lados, condutores
enganados, devido à sinalização insuficiente. É assim que andamos (mal)
governados.
Pois bem, lá voltei para trás e depois de
entrar no IP2, apareceu a dita indicação para virar à esquerda a 1500m em
direcção a Mogadouro, etc..
Muitas pontes e muitas retas |
A partir daqui o trajecto passou a ser
mais isolado de povoações e terrenos agrícolas, com muitas subidas e descidas,
rodeadas de mato de giesta, urze, e alguns pinheiros e carvalhos que se devem
ter salvado da devastação de fogos de outros anos.
No entanto era inevitável apreciar o
verdejante da paisagem. Depois da perspectiva de uma grave seca, fomos
abençoados com uma abundante chuva, resultando numa Primavera glamorosa. Agora
há que saber apreciar.
Alfandega da Fé também passa
despercebido, mas em contrapartida deparamo-nos com um dos mais belos postais
do trajecto – Mogadouro, enquadrado por verdejantes campos de cereais.
Paisagem para o rio |
A partir daqui até ao fim do percurso em
Duas Igrejas, (a 8 Km de Miranda do Douro) seguiram-se retas de perder de vista,
sempre acompanhado pela N102, convidando-me a enrolar o punho, mas não caí na
tentação, pois o objectivo era muito mais enriquecedor – tão somente apreciar a
paisagem.
Uma coisa que reparei em todo o trajecto,
é que o mesmo estava literalmente “às moscas”. Um carro ou um camião de vez em
quando…. mas que é que se passa?, perguntei eu a mim próprio. Os combustíveis
estão caros, mas não existem portagens, pelo menos por agora. Depois na estrada
nacional em direcção a Vimioso constatei a mesma coisa, chegando à inevitável
conclusão de que todo o norte interior está deserto. Digamos que ter feito o
IC5 naquele local, é como fazer um restaurante num cemitério e esperar que os
residentes lá vão. Tarde demais.
Mogadouro |
Também vi por três vezes cartazes de
agradecimentos ao nosso mais recente ex- primeiro-ministro: “ Obrigado
Sócrates, o povo de/o PS de / o concelho de (…) está agradecido”. Bom, sobre
isso eu só tenho a acrescentar que não só eles, devem estar muito agradecidas,
mas também as empresas construtoras, os seus dirigentes, nos quais estão
incluídos políticos e respectivas famílias, a banca e todo o país em geral, por
toda a dívida acumulada e que agora temos que pagar com elevados juros e
sacrifícios.
Passado Vimioso, armei-me em inteligente
e segui as placas para Bragança, ignorando o (bom?) conselho do GPS que me
dizia insistentemente para ir para Norte pela N218-2, por Pinelo.
Ainda não sei se fiz bem ou mal, só sei
que a estrada era larga mas algo irregular, desembocando no IP4 sem contar, já
muito perto da fronteira de Quintanilha.
Ao aproximar-me de Bragança, levei com
mais uma rasteira. Entrei sem contar na nova auto-estrada e ainda tremi quando
vi a anunciar “troço com portagem”, mas felizmente saí imediatamente antes,
pela entrada Sul da cidade (o IP4 contorna pelo Norte e a AE pelo sul).
Depois de uma demorada paragem, lá fui eu
para a minha estrada preferida em direcção a Chaves– a N103. Já tinha tantas
saudades, que nem me rendeu nada. Apenas o sol, a aflorar no cimo das
montanhas, me fazia lembrar que o dia estava a chegar ao fim.
Estatística:
· Distância do percurso – 381 Km;
· Distância do IC5 (aprox) – 140 Km
· Velocidade média – 82 km/h;
· Consumo – 4,9 l/100 Km;
· Ascensão acumulada – 5871 m;
· Ponto mais alto alcançado (Sta. Leocádia,
Carrazedo Montenegro)– 922 m;
· Ponto mais baixo alcançado (perto Vila
Flor – IP2)– 195 m.