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quarta-feira, 8 de março de 2017

BMW R1200RS – a moto mágica

Caso não se note na alegria das minhas palavras, desde já revelo que foi esta a moto eleita. Tive tanta sorte que na última da hora apareceu o negócio que estava suplicando (e vigiando) há cerca de um ano!
A RS é o espelho da minha alma, o culminar de três décadas em moto, o regresso à origem, ao tempo em que em 1989, comprei a minha primeira moto a sério, uma Suzuki GSX750F com um alucinante motor ar/óleo de 109 cv, cheio de carácter, herdado das primeiras super desportivas Suzuki Racing!
Suzuki GSX-F750


Ao longo dos anos, as sport-touring (desporto-turismo, e que abreviadamente passo a designar de ST) quase se extinguiram em benefício das polivalentes e cada vez mais potentes trail e ultimamente as SUV, motos trail 100% estradistas.
A situação ainda se mantém, mas algumas marcas, como a Honda com as suas VFR (800 e 1200), a Kawasaki com a ZXR-SX continuam a insistir nesta vertente que continua a ter muitos adeptos. Não contemplo a Suzuki GSX-S1000F porque tem o guiador alto de uma naked, uma protecção aerodinâmica diminuta, o passageiro quase não tem assento onde por o rabo e não contempla malas de origem! Ou seja, tem uma arquitectura esquisita, difícil de definir, que a afasta do conceito ST.

BMW R1100RS 
Em 1993 a BMW lançou uma ST, a R1200RS, mas era quase uma espécie de BMW RT (turística) com a cúpula mais pequena e o guiador mais baixo, e por isso com um carácter pouco desportivo. Apesar de não ser uma rainha da beleza, ainda aguentou no mercado 8 anos!

Mais tarde em 20015 nova tentativa, a R1200ST, desta vez um pouco mais “sport” que a anterior, mas os desenhadores deviam estar pouco inspirados e com o feiinha que era, o sucesso comercial foi escasso e por isso não durou no mercado mais de 3 anos.
BMW R1200ST

Recentemente a BMW ganhou novamente fôlego e em 2015 reeditou a RS, um modelo carenado de corte desportivo, feita com base na naked R e linhas inspiradas na S1000R, incorporando o moderno motor boxer a ar/água que já equipava a GS e a RT.

Antes de mais quero salientar, em especial a todos aqueles que tenham dúvidas, este motor nada tem que ver com o anterior. Nada! O motor actual conserva a configuração boxer, e é a única coisa rudimentar que decidiram conservar, tão só e apenas por questões de tradição. Esse para mim é o primeiro defeito! Se não soubesse para que servem aqueles dois cilindros saídos para cada um dos lados, a primeira coisa que faria era ir a um serralheiro para que os cortasse!
BMW R1200RS


Mas fora isso, está cheio de virtudes! Dotado de embraiagem em banho de óleo deslizante e de toda uma panóplia de itens tecnológicos de ponta, arranca ao primeiro toque de botão e tem um funcionamento fino como a seda (quem já teve o anterior motor compreende porque realço isto). A caixa faz o tradicional “clonc” ao arrancar, mas depois em andamento, quase não se nota mudar de caixa.

A potencia e o binário – 125 cv às 7.750 rpm e 125Nm às 6.500 rpm, à primeira vista podem parecer limitados face à concorrência, mas vejamos por exemplo, uma Ducati Multistrada 1200 de 2015 que tem 160 cv às 9.500 rpm e 136Nm às 7.500 rpm, uns dados nitidamente superiores, mas lamentavelmente só alcançáveis em rotações quase proibitivas, tanto pelo limite da lei como para a nossa segurança.

Passando adiante, passo ao propósito deste artigo, transmitir sensações na condução.
Ao volante, a posição resulta cómoda e agradável. Para a minha compleição física e para os meus 1,74 m posso dizer que resulta perfeito – os braços ficam a meio caminho entre o turístico e o desportivo o que, em conjunto com o generoso espaço longitudinal oferecido pelo assento, permite escolher entre uma postura que pode carregar mais ou menos peso nos braços, ou seja, uma postura mais ou menos desportiva. As pernas também ficam mediamente flectidas, sem comprometer o conforto em percursos mais longos. Parado, os pés ficam ambos bem plantados no chão.


Os comandos dos punhos estão bem repartidos e são intuitivos, ao estilo tradicional BMW. O quadrante, herdado da versão R – naked, até é agradável, mas com um senão - ter o velocímetro em formato convencional. Eu preferia antes no seu lugar o conta-rotações, e o velocímetro passaria a digital. Mas como não sou eu quem mando, assim fica!
Quadrante
O quadrante ademais de agradável é muito intuitivo e bem arrumado. Nesta versão o computador de bordo fornece dados até à exaustão. Com apenas um botão que báscula em dois sentidos permite-nos aceder a 31 dados ou opções!
Não vou aqui dar seca daquilo que tem, vou apenas destacar algumas coisas que achei curiosas. Por exemplo, conforme o motor vai aquecendo, o conta-rotações digital indica com uma barra a limitação das rotações máximas para evitar acelerar com o motor frio. Outra, é a possibilidade de mostrar três modos diferentes do computador de bordo: uma completa e bem arrumada (style 0), outra mais simples e mais racing (style 1) e a terceira, a mais espartana destinada à condução mais relaxada e touring (style 2) (ver foto).

Modos de visualização do computador de bordo
Chegado a hora de arrancar, roda-se a chave, pressiona-se o botão de arranque e o motor roda com imenso vigor pegando de forma imediata! Um contraste enorme com o boxer da anterior geração que parecia que se afogava ou que a bateria estava fraca.
A partir daí, com uma embraiagem tão suave e fácil de accionar que quase não se nota, a primeira velocidade entra com o desagradável “clonc” e depois é só vigor e energia. A transmissão por cardan não gera qualquer efeito negativo (a embraiagem deslizante ajudará certamente…) e tão pouco a disposição horizontal dos cilindros.

Esta versão tem um dispositivo (um extra de que fiz questão por na moto) e de que falei maravilhas num artigo anterior – o quick shifter. Graças a esta decisão, este dispositivo quase invisível tornou-se o meu brinquedo preferido! Pelo facto de a caixa de velocidades deste motor estar dotado com rodas dentadas helicoidais, permite que o as mudanças permitam ser accionadas sem embraiagem, tanto a reduzir como a aumentar, o que a torna muito, muito divertida, prática e muito eficiente, fazendo-nos sentir um verdadeiro piloto de motos “racing”!
O principio de accionamento é muito simples. Para aumentar a velocidade tem que estar o acelerador aberto e dar um toque para cima na alavanca com o pé, e para reduzir, o acelerador tem que estar fechado e fazer a operação inversa com o pé.
Para tirar pleno rendimento do sistema requer alguma habituação, em especial ao baixar de velocidade, devido a estar habituado toda a vida a fazer reduções convencionais com a manobra de dar gás em seco, embraiar, reduzir, e ao mesmo tempo proceder à travagem antes de, por exemplo, uma curva. Ainda estou a adaptar-me, mas o sistema é completamente viciante, acabando por se utilizar a embraiagem só quando requer arrancar ou parar ou quando se rola a baixa velocidade.

Tendo a moto um centro de gravidade baixo, é extremamente fácil curvar com ela. Ainda estou a explorar o sofisticado controle de tracção (CT) regulável em 3 níveis (associado aos 3 modos de potência do motor), no sentido de poder sair mais rápido nas curvas sem derrapar de forma excessiva ou descontrolada. Desde já afirmo que não é fácil activar esse sistema, pois os pneus por si só já têm muita aderência e então se queremos ir ainda mais rápido com o CT “a apitar”, aí já atingimos velocidades em curva pouco recomendáveis tanto para a nossa segurança como para a daqueles que nos rodeiam.

Falando de curvar, aproveito para abordar mais um senão desta moto, o peso. Volto a dizer que é muito fácil de levar nas curvas, mesmo muito bem, mas também se nota que a versatilidade avantajada desta ST se paga com quilos. Uma desportiva de topo tem cerca de 200 Kg e a RS, já confirmei na balança com depósito cheio e suportes das malas – acusa 245 Kg (239 Kg declarados pela marca)! Sim, o ideal era que tivesse menos 20-30 Kg. Isso melhoraria a curvar, mas depois ficaria curta na vertente turística como acontece, por exemplo, à Suzuki GSX-S1000F. Já se sabe, não há bela sem senão…

Os pneus são uns Michelin Pilot Road 4. Já tinha andado com versões anteriores, mas com estes é a primeira vez. Até agora têm-se portado de forma irrepreensível. Até agora, tanto em seco como em chuva, ainda não me deram um único aviso negativo ou susto. Resta ver como se comportam na segunda metade da sua vida e a sua duração, mas se assim continuarem, repito.

O acessório colocado no guarda-lamas
Junto à roda traseira há um utensílio que pela sua falta, acabei por comprar um em marcas auxiliares (Wunderlich). Estou a referir-me à parte anterior do guarda-lamas traseiro que é muito importante em caso de chuva, porque protege o amortecedor e toda a parte inferior das pernas e botas (ver foto).

Uma ST é uma moto exclusivamente de estrada e dentro desse âmbito é o tipo de moto mais versátil para usar todo o ano, seja para as voltas na cidade, saídas em plano desportivo, para o trabalho ou para viagens mais longas.
A moto com as malas
Com a nova RS, a BMW levou quase à perfeição sobre aquilo que deve ser uma ST. A moto com o vidro (cúpula) em baixo fica com um visual deveras desportivo, mas se o levanto, basculando os 6 cm disponíveis, ademais ponho as 3 malas de origem e contando com o controle de velocidade (cruise control), os punhos aquecidos (e a transmissão por cardan que dispensa manutenção) que estão já  integrados no equipamento e… tacham!!! Magia! A moto em poucos minutos fica turística a 100%, apta para viajar sem limites!


Ressalvo que o vidro, o qual tem 4 posições, duas desapertando 4 parafusos (ganham-se 2 cm) e outras duas basculando, verifica-se que, mesmo na posição mais alta, fica curto para a minha estatura, provocando o desagradável ruído de turbulência no capacete. Por isso decidi adquirir outro para viagens mais longas, que desvie o ar do capacete. Dentro da muita oferta que existe, optei por um da marca Puig, 10 cm mais alto que o original e funciona na perfeição!

Cúpulas

Quero também fazer uma breve referência às suspensões. A BMW declara que são completamente automáticas, que regulam o seu comportamento de forma instantânea a cada tipo de piso. Por isso só tem disponível duas posições: a “road” para condução normal e a “dynamic” para condução desportiva. Para além disso, tem 3 posições para a regulação electrónica da pré-carga da mola, conforme tenha mais ou menos peso.
Há um detalhe curioso que quero salienta. Tem 140 mm de recorrido em ambas suspensões, sendo que normalmente numa ST ronda os 120 mm. Estes 20 mm extra podem ser vantajosos na hora de subir um passeio, em piso bastante degradado, ou mesmo por caminhos, devagarinho. Desconfio que este plus é para que a moto fique mais alta e assim ao curvar, conferir maior distância dos cilindros ao asfalto. Suposições…

Sobre consumos, até tenho receio de falar nisso, pois quase parece mentira pelo bons que são. Em passeios dominicais a ritmo bem alegre por estrada nacional, não passou dos 4,5 litros.
Consumo recorde num percurso de 108 Km em montanha
Em aditamento (02Abr17), posso anunciar que bati o recorde de consumo nunca antes feito com uma moto - 3,7 litros/100Km, que na realidade podem ser 3,9 litros. Isto feito a um ritmo de velocidade legal, evitando reduções e acelerações bruscas e nunca ultrapassando os 100 Km/h reais.
Posso também acrescentar que, com piloto e malas laterais bem carregadas, em bom ritmo por estradas nacionais, anda à volta dos 5,0 litros e em auto-estrada a 120Km/h reais andará à volta dos 5,5 litros. Excelente para uma 1200 cc, não?!
Ah! O depósito fica um bocado curto dentro da versatilidade de que faz jus, tem apenas 18 litros. Se pudesse pedir, o ideal seriam os 20 litros.
Sobre a travagem pouco há a dizer pelo bem que funciona. É assistida por travões Brembo, é doseável e efectiva.

Em minha opinião esta moto é sem dúvida a melhor opção do segmento do ST (senão não a comprava, eh! eh!) e também a mais cara! Alguém poderá dizer que, por exemplo, a Honda VFR 1200F será melhor por ter um V4 com 160 cv, mas tem o problema do peso, que superando os 270 Kg (!) perde agilidade, posicionando-a ao nível de uma turística.

Resumindo:
Gosto:
·         Motor moderno potente e agradável
·         Consumo
·         Possibilidades turísticas
·         Tacto da embraiagem e travões
·         Quick shifter
·         Posição de condução
·         Estética
·         Transmissão por veio
·         Possui cruise control e punhos aquecidos
·         Control de tracção sofisticado
·         Suspensões electrónicas
·         Malas laterais e top case
·         Suspensões com 140 mm de recorrido

Não gosto:
·         Posicionamento destacado do velocímetro
·         Peso
·         Preço nova
·         Depósito de gasolina pequeno
·         Cilindros boxer
·         Clonc da 1ª velocidade
·         Falta a parte anterior do guarda-lamas traseiro

Se queres um vídeo divertido com a moto em acção (em espanhol), clica: https://www.youtube.com/watch?v=taVa1AYgUAc